segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

DAVID HUME


David Hume e as Paixões
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo).

David Hume (1711/76) filósofo, historiador e ensaísta escocês, compõe o triunvirato empirista britânico, juntamente com Locke e Berkeley, em oposição ao racionalismo inaugurado por Descartes. Nesse movimento, levando os princípios do empirismo às últimas conseqüências, é lhe reservado o papel de conduzi-lo à sua inevitável conclusão cética acerca das causas, do mundo exterior e da própria mente.

De forma elegante dá um novo tom à filosofia, com muita simplicidade e convicção descarta um arsenal de argumentos complexos. Uma espécie de filosofia popular e científica, uma pop-filosofia. Como ideal, uma clareza , que não é a das idéias, mas as das relações e das operações. É esta nitidez que tentará impor nos seus livros. Empirista quanto ao problema da origem do conhecimento, cético em relação à metafísica e utilitário altruísta em assuntos morais e políticos.

Também há um tom de psicologismo em algumas de suas obras. Podemos dizer que, David Hume foi o precursor de temas psicológicos, ao qual ele tratava como lógica.

O Homem será objeto investigado e sujeito investigante, ou seja, o homem será objeto e sujeito de si mesmo. Nós não somos apenas simples seres que raciocinam, mas também objeto de raciocínio. Surge a auto reflexibilidade. Desponta as ciências humanas.

No Tratado da Natureza Humana (publicado em 1739-1740), ele estabelece que as paixões, não a razão, determinam a vontade e motivam as ações humanas.

Uma célebre passagem do livro 2, Parte 3, Seção 3”Dos motivos que influenciam a vontade”, afirma que:

A razão é, e deve ser apenas a escrava das paixões, e não pode aspirar a outra função além de servir e obedecer a elas.”

Assim, Hume afirma primeiro que sozinha, a razão jamais pode ser motivo de qualquer vontade e, em segundo lugar, que a razão jamais pode opor a paixão na direção da vontade.

Embora a força retórica dessa passagem sugira uma disputa entre razão e paixão pelo “governo da vontade e das ações”, Hume adverte que não se trata propriamente de um combate ou luta por dominância. A questão, para ele, é encontrar a fonte última de determinação da vontade. Diz ele:

É evidente que, quando temos a perspectiva de vir a sentir dor ou prazer por causa de um objeto, sentimos, em consequência disso, uma emoção de aversão ou de propensão, e somos levados a evitar ou a abraçar aquilo que nos proporcionará esse desprazer ou essa satisfação.”

Portanto, só agimos e nos movemos no sentido de buscar o prazer ou evitar a dor.

Num estado de indiferença, permaneceríamos imóveis. Assim sendo, a fonte última reside nas paixões.

Hume, no Livro 3, Parte 1, Seção 1, “As distinções morais não são derivadas da razão”, define razão:

A razão é a descoberta da verdade ou da falsidade. A verdade e a falsidade consistem no acordo e no desacordo seja quanto à relação real de idéias, seja quanto à existência e aos fatos reais.”

Segundo ele a razão não tem o poder de produzir ações. Ela não origina nem impede volição e, sozinha, não é capaz de nos motivar. Na direção da vontade, seu papel reduz-se ao de um acompanhante auxiliar e instrumental. A razão julga sobre os meios apropriados para se obter os fins e sobre a existência dos objetos da paixão. Se ela descobre ser falsa a suposição de existência, ou insuficientes os meios, já não há mais por que realizar a ação proposta a inclinação para realizá-la. Quando se remove a paixão, a propensão à ação cessa imediatamente.

Se a moral motiva, ela deve se fundar nas paixões. Com efeito, para Hume, as regras da motivação não são conclusões da razão, ou seja, não são descobertas por raciocínio demonstrativo a priori , nem por raciocínio provável a posteriori. A distinção entre virtudes e vícios é feita pelos sentimentos – os juízos morais expressam sentimentos de aprovação ou desaprovação, que são uma espécie de prazer e de dor na contemplação de qualidades úteis ou agradáveis ao seu possuidor ou aos outros.

Que qualidades aprovamos? A lista das virtudes naturais é imensa. Por exemplo, as qualidades agradáveis a seu possuidor incluem alegria, orgulho, dignidade, serenidade; qualidades úteis ao possuidor são prudência, bom senso, discrição, constância; úteis aos outros são a generosidade, gratidão, gentileza e coragem; e agradáveis aos outros são polidez, modéstia e humor. No caso da justiça e outras virtudes artificiais (que dependem das convenções humanas), adquirimos simpatia pelo interesse público e o objeto de aprovação passa a ser a prática como um todo.

Só agimos e nos movemos no sentido de buscar o prazer ou de evitar a dor”.
 

Bibliografia consultada:

- Hume David, Tratado da Natureza Humana, editora Unesp.

- Guimarães Lívia Maria, Os Filósofos Clássicos da Filosofia , Vol. I de Sócrates a Rousseau , Rossano Pecoraro (org) Editora Vozes, Petrópolis, 2008.

- História da Filosofia – Direção de François Châtelet , vol. 2, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995.

- Os Pensadores, História das Grandes Idéias do Mundo Ocidental, Vol. II, Abril Cultural, 1972 – São Paulo.