quinta-feira, 11 de outubro de 2012

ROUSSEAU

TREZENTOS ANOS DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU
( por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)

Em junho deste ano fez 300 anos do nascimento de J.-J. Rousseau.
A este tão célebre pensador nossas honras devidas.
Homem polêmico, provocativo, um intelectual bem a frente de seu tempo. Não foi a toa que foi tão mal compreendido.
Para ler os seus textos há que se ter um certo refinamento, pois uma leitura despretensiosa ou apressada, poderá resultar numa interpretação desastrosa..
Não subestimem Rousseau, seus textos ora tem movimentos pendulares, de negar, afirmar e negar de novo, ora ele é irônico e aí o que se elogia, na verdade, se critica, outras vezes tem conceitos próprios, bem diferentes do senso comum e até cria palavras novas, como “perfectibilidade”.
Vejamos em pequenos “flashes“ seu pensamento, sua vida.
Em primeiro lugar, Rousseau diz-se sempre e repetidamente um cristão. Não entra nessa história de materialismo e ateísmo.
Nada de mais distante, portanto, à primeira vista, da vanguarda iluminada de seu século.
Rousseau se interessou por muitas coisas. Sua primeira e grande paixão, foi a Música, tal como ocorreu para muita gente neste século de Bach e de Mozart. Ele próprio tocava e compunha músicas. Chegou mesmo a inventar um novo sistema de notação musical.
Gradativamente sua vocação foi mudando e ele, pela força das circunstâncias, foi se convertendo num escritor. Logo surpreendeu a todos com o seu primeiro escrito, intitulado: Discurso sobre as Ciências e as Artes, publicado em 1749, na qual se acham em germe todos os elementos da sua bela doutrina.
Com esta obra ganhou o primeiro prêmio em um concurso da Academia de Dijon, na França. Nela defendia o ponto de vista de que as grandes invenções, as ciências, as artes e as letras, a cujo reflorescer se assistia na época, ao invés de melhorarem o Homem, haviam-no, na realidade, deteriorado.
Jean-Jacques, nesta obra, não ataca apenas o tema “parecer”, que já se tornara moeda corrente no vocabulário intelectual da época, mas vai muito mais além, ataca o “ser”.
Rousseau voltou à carga, numa segunda obra o famoso: “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”. Vejamos um trecho do Discurso:
“...O primeiro que tendo cercado um pedaço de terra, teve o atrevimento de dizer “isto é meu” e encontrou gente bastante cândida que acreditasse, foi o fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassínios! Que misérias e horrores teria poupado ao gênero humano aquele que, derrubando os muros ou enchendo as valetas, tivesse gritado aos seus semelhantes: “ guardai-vos de dar crédito a tal impostor, estareis perdidos se vos esquecerdes de que a terra não tem dono e que seus frutos pertencem a todos.”
Neste parágrafo ele aponta para a propriedade como origem da desigualdade e como consequência de todos os males da humanidade.
Para ele neste momento começa toda a degeneração e corrupção entre os homens.
E é por isso que Rousseau nesta obra defende o Estado de Natureza e “o Bom Selvagem”.
Mas para ele o que era “o bom selvagem”?
Aquele que vivia no Estado de Natureza, onde tudo era de todos e se precisasse matar para se defender, o faria. Caçava, pescava, vivia, mas não era corrompido nem degenerado.
Para Rousseau no Estado de Natureza o Homem estava em equilíbrio, seria um estado mais apropriado à paz. Ao contrário de Hobbes que igualava o Estado de Natureza ao Estado de Guerra.
São suas as palavras: “ Concluamos que, errando pelas florestas, sem engenho, sem a palavra, sem domicílio, sem guerra e sem vínculo, sem a menor necessidade de seus semelhantes, assim como sem nenhum desejo de prejudicá-los ... o homem selvagem, sujeito a poucas paixões e bastando-se a si mesmo, tinha apenas os sentimentos e as luzes próprias desse estado...”
Jean-Jacques tinha que prosseguir e escreveu mais obras, dentre elas estão duas de dimensão e intenções desiguais, mas absolutamente complementares. Trata-se : Do Contrato Social e de O Emílio.A primeira a nível político e a outra pedagógico.
Em carta ao arcebispo de Paris, Rousseau, protesta contra a proibição da impressão de suas obras no território francês. Rousseau foi considerado um perigoso, subversivo e teve que passar a sua vida toda fugindo.
Finalmente, somente em nosso século que Rousseau começa a ser melhor compreendido. Como previa, dizia que escrevia para a posteridade. Este cidadão nascido em Genebra, em 1712, mostrou-se em toda sua plenitude, a sua importância em vários domínios do saber e das artes, desde a literatura até a pedagogia e a política.
“Prefiro ser um homem de paradoxos, do que de preconceitos (J.-J. Rousseau)”
À Rousseau nossas homenagens!

Bibliografia consultada:

- Salinas Fortes, L. R. O iluminismo e os reis filósofos. Ed. Brasiliense, São Paulo, 2004.
- Rousseau, J.-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Tradução: Maria Ermantina Galvão. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2005.