quarta-feira, 6 de março de 2013

ARISTÓTELES - PARTE II


PRUDÊNCIA EM ARISTÓTELES”
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
 
Aristóteles na Ética a Nicômaco além da Virtude também vai tratar da Prudência e demonstrar a íntima relação entre as duas, ou seja:

Não há virtude sem prudência e nem prudência sem virtude.

Para entendermos o que é Prudência em Aristóteles, devemos começar pelas Ciências. Qual é o pensamento de Aristóteles sobre Ciências? Como ele classifica as Ciências?

Prudência seria Ciência?

Aristóteles divide as Ciências, estabelecidas no livro VI da Metafísica, em: Ciências Práticas e Ciências Teoréticas.

Dentro de cada uma delas, ele faz uma subdivisão, ou seja, as Ciências Práticas se subdividem em: Produtivas e Práticas propriamente tais.

As Ciências Teoréticas: em Metafísica, Matemática e Física.

As Ciências Práticas são o saber prático, procuram o saber voltado para a ação.

Nelas as Ciências Práticas Produtivas, são o domínio das “technaí”, se ocupam com a produção de objetos intelectuais. Ex. Poética, Retórica, Técnicas, Artes, Engenharia, Medicina etc.

Nas Ciências Práticas propriamente tais a própria prática é sua finalidade. Exs. Política, Ética, Direito, Economia etc.

As Ciências Teoréticas são o saber teórico, das Ciências Puras, da “Sophia”, da “Epistemé”,  procuram o saber pelo saber.

Nelas, a Metafísica é a Ciência do ser enquanto ser. É a ciência do Filósofo.

A Matemática se estuda os seres matemáticos.

A Física estuda a natureza (“physis”), o mundo do devir, da geração e da corrupção.

Mas, afinal, Prudência é para Aristóteles Ciência?

Sim, é a ciência a do saber prático é a ciência prática propriamente dita.

Prudência aristotélica ou “phronêsis” platônica é uma virtude intelectual, portanto dianoética, do pensamento, da razão.

O que difere no pensamento destes filósofos é que para Platão a “phronêsis” é um saber teórico e para Aristóteles a prudência é um saber prático, mas para ambos ela é ciência.

Prudência é a reta razão, é o agir deliberado, refletido. É a ação ponderada, discutida, examinada, deliberada.

Deliberamos sobre “tudo o que é obra do homem”, o que está sujeito a mudança.

Segundo Pierre Aubenque “A deliberação representa a via humana, ou seja, mediana, aquela de um homem que não é completamente sábio, nem inteiramente ignorante, num mundo que não é, nem totalmente previsível, nem totalmente imprevisível, o qual, no entanto, convém ordenar usando as mediações claudicantes que ele nos oferece”.

Com efeito, na prudência a ação é cautelosa, porém não é morosa.

Ela é rápida e certeira. É o Kairós, o tempo do grego, especificamente do guerreiro grego, ele sabe como e quando agir.  É o agir bem e no momento certo.

Mas quando é o momento certo?

“Nem antes nem depois”, assim Ulisses (Odisseu) orienta a seu filho Telêmaco, na Odisséia de Homero.

Para Aristóteles não deliberamos, não refletimos sobre os fins, sobre o que desejamos, mas a respeito dos meios.

A finalidade do homem quem determina é o desejo, ele é o fim desejante, e está na parte irracional.

Agora, quanto aos meios, para obter o fim que é o desejo, está na parte racional, dianoética.

A razão, através da prudência, aparece proporcionando a deliberação, a reflexão sobre os meios que devem ser empregados para conseguir os fins desejantes.

Prudência é a virtude da decisão e da ação.

É, pois, a reta razão que dará a resposta quanto aos meios que utilizaremos para o fim que é o desejo.

Prudência é o olho d’alma.

É a “ recta ratio agibilium”, é a virtude opinativa  da alma, é a “auriga virtutum”, é a guia das virtudes, “ genitrix virtutum”, é a mãe das virtudes.

Segundo Jean Lauand “a virtude que realiza as demais.”

A prudência não se esquece. Não há como parar de exercê-la.

Os virtuosos usam da prudência e os não virtuosos usam da habilidade,  da astúcia.

O virtuoso “natural”, exemplo: que já nasce generoso, corajoso, não possui a prudência. Ele não vai escolher os meios corretos para o fim desejado. O desejo é bom, mas os meios que ele utiliza não são bons.

Não há virtude ética, do caráter, da moral, sem prudência (“phronêsis”). E nem prudência  sem virtude ética.

Na parte apetitiva está o fim que é o desejo, daí a importância da educação dos apetites, da virtude moral, do caráter, da ética, para que os fins desejantes sejam bons.

Do outro lado na parte racional está a deliberação, a reflexão, sobre os meios que eu vou escolher para alcançar o fim desejante, daí a importância da virtude intelectual, dianoética, da razão. A deliberação dos meios deve ser virtuosa. Os meios devem ser virtuosos, bons.

Há uma ligação entre a parte irracional e a racional, entre a virtude, que está na parte irracional dos apetites, do controle dos apetites e a prudência, que está na parte racional, do saber prático, de tal forma que se meu fim que é meu desejo é ruim, se não é virtuoso ele contaminará os meios, e vice-versa, se os meios forem ruins ele contaminará os fins. .  Elas estão intrinsecamente ligadas. O irracional e o racional.

Reto desejo, reta razão e reta razão, reto desejo.

Não há prudência sem virtude nem virtude sem prudência.  

Bibliografias:

1) Os Pensadores, Aristóteles, Ética a Nicômaco, Vol.IV,  Editor Victor Civita – 1973

2) Aubenque, Pierre – A Prudência em Aristóteles –Trad. Marisa Lopes. São Paulo, SP. Discurso Editorial, 2003.