quarta-feira, 31 de julho de 2013

CAETANO VELOSO

“CAETANO VELOSO ARAUTO DA ALEGRIA”
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)

 
Era uma tarde de inverno, ventava muito em São Paulo, no ano de 2009, quando conheci Caetano Veloso, ele precisou tirar um novo RG, pois o dele era muito antigo, da Bahia, portava apenas o xérox, também estava sem passaporte e precisava viajar no outro dia, para Buenos Aires. Nos países do MERCOSUL, quem faz parte, não precisa de passaporte, mas há uma recomendação, o RG tem que ser atual, de 10 em 10 anos, deve ser renovado.
 
Foi uma correria!
 
Bem, enquanto aguardávamos Caetano, enfrente ao IIRGD, com praticamente tudo pronto, veio-me aquele momento de fã e uma dose ansiedade, até então estava pensando apenas profissionalmente.
Lembrei que na correria havia esquecido meu celular, para tirar uma foto com Caetano.
 
Que decepção! Não registraria aquele momento tão especial.
 
Olhei para frente e vi do outro lado da Avenida Cásper Líbero, uma loja que vendia discos, pelo menos era o que anunciava.
 
Que felicidade! Acreditei que lá eu encontraria um disco do Caetano e então conseguiria pelo menos um autógrafo.
 
Entrei na loja às pressa.
 
Conforme fui passando pelas prateleiras, procurando alguém para me atender, dei uma fitada no que se vendia de um lado revistas para aprender a fazer tricô, crochê, moda, do outro revistas pornô e no fundo muitos discos.
 
Uma loja um tanto eclética!
 
Perguntei ao vendedor se tinha algum disco ou CD do Caetano Veloso, na certeza que ele responderia que sim.
 
Levei um não. Insisti. Outro não. Insisti novamente. “Não”!
 
Saí do local no estilo: “To triste, sei lá, mil coisas...”
 
Logo recuperei o ânimo, afinal de contas iria conhecer Caetano.
 
Enfim, ele chegou!
 
Com um sorriso largo, simpático, simples e até um pouco tímido.
 
Brincamos, dissemos que ele estava literalmente sem documento.
 
Ele concordou plenamente e completou e sem lenço.
 
Risos.
   
No transcorrer da conversa, por algum motivo tocou-se no nome de um determinado Pastor.
 
Ele externou um ar de preocupação.
 
Contou-nos que a babá de seus dois filhos, mais novos, era da igreja desse Pastor e por consequência, os meninos tornaram-se seguidores de tal religião, porém observou que um deles, o mais velho, começou a refletir melhor sobre o tema.
 
Caetano disse que, acreditava em Deus, mas não tinha nenhum tipo de religião, pois questionava os dogmas.
 
Conversa vai, conversa vem...
 
Surgiu então, o assunto da caligrafia do nome de Caetano.
 
Ele lamentou, com pesar, o registro errado do seu sobrenome no cartório da Bahia.
 
Disse que, todos os seus familiares foram registrados com “Velloso”, com dois éles, ele foi o único da família que foi registrado com um éle.
 
Inconformado, pois queria “Velloso”, seu primeiro disco está escrito desta forma, nos outros ele se rendeu e ficou “Veloso”.
 
Enquanto o assunto era profissional, tudo bem!
 
Como fã, a danada da timidez!
 
Num ato de muita coragem, com aquele sorriso amarelo, pedi uma foto (consegui um celular emprestado).
 
Com certeza fiquei vermelha!
 
Ele concordou com um sorriso.
 
Interessante! Por um momento, tive a impressão que ele olhava nas minhas rosas brancas da blusa.
Enfim, a foto!
 
Logo em seguida, acompanhamos ele partir.
 
De longe, fiquei contemplando aquela cena.
 
Partia Caetano, ainda sem lenço, mas agora com documento!
 
Lá, eu ficava com minhas rosas brancas e a eternidade daquele momento.
 
Estava distante.
 
Ele olhou antes de entrar no carro, fiz um gesto de abraço, cruzando os braços na altura dos ombros.
 
Ele também. Sorrisos...
 
Partia nosso Arauto da Alegria, que com sua música nos faz sentir mais sublimes e menos mortais.
 
Um homem que quando canta, encanta até Orfeu!
 
A vida é assim, quando menos se espera, nos brinda com momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis!
 
Salve o Caetano!
Salve a Bahia!
Salve o Brasil!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

FREUD.

“Alma Coletiva”

(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo) .
 
 
O momento atual, com manifestações coletivas, de tantos grupos, nos convida a uma reflexão.

O Homem é um ser político, que nasceu para viver em sociedade. Que indivíduos unidos numa sociedade, formam grupos, coletividades. Quando as ações destas coletividades estão de mãos dadas com o ‘telos’, ou seja, ações virtuosas unidas com meios prudentes e finalidades nobres, que visam o bem comum, são dignas de louvor.

Tais práticas são belas manifestações da sociedade. O Justo, o Bom e o Belo, estão sempre juntos, pois Eros (o amor) os une. E Eros é construção.

Afinal, desejamos uma sociedade justa, ou seja, harmônica, simétrica e equânime.

A todos os movimentos sociais, neste sentido, nada mais digno de louvor !

Mas, a‘contrario sensu’, o que acontece quando algumas dessas massas agem sem ‘telos’?

Constatamos que é pura barbárie e destruição. O homem desce vários degraus na escala da civilização.

Freud , em sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu, citando Le Bon, constata que:

“O fato mais singular, numa massa psicológica é que o simples fato de se terem transformado em massa os torna possuidores de uma espécie de alma coletiva.

Certas idéias, certos sentimentos aparecem ou se transformam em atos apenas nos indivíduos em massa. A massa psicológica é um ser provisório, que por um instante se soldaram, formam um ser novo que manifesta características bem diferentes daquelas possuídas por cada um individualmente.

Constata-se facilmente o quanto o indivíduo na massa difere do indivíduo isolado.

A vida consciente não representa senão uma pequenina parte, comparada à sua vida inconsciente. 

Nossos atos conscientes derivam de um substrato inconsciente formado sobretudo de influências hereditárias. Este substrato encerra os inúmeros resíduos ancestrais que constituem a alma da raça.

Por trás das causas confessas de nossos atos, há sem dúvida causas secretas que não confessamos, mas por trás dessas causas secretas há outras, bem mais secretas ainda, pois nós mesmos as ignoramos. A maioria de nossos atos cotidianos é resultado de móveis ocultos que nos escapam.

Na massa as aquisições próprias dos indivíduos se desvanecem, e com isso desaparece sua particularidade. O indivíduo é um instintivo e em consequência um bárbaro. Tem a espontaneidade, a violência e a ferocidade dos seres primitivos. O inconsciente da raça ressalta. Ocorre uma diminuição de sua capacidade intelectual. Tal indivíduo é  um autômato, sem vontade, guiado apenas por instintos.  

O indivíduo na massa adquire, pelo simples fato do número, um sentimento de poder invencível que lhe permite ceder a instintos que, estando só, ele manteria sob controle. E cederá com tanto mais facilidade a eles, porque, sendo a massa anônima, e por conseguinte irresponsável, desaparecerá por completo o sentimento de responsabilidade que sempre retém os indivíduos.

Pois o cerne da chamada consciência moral consiste no ‘medo social’.

Também ocorre o contágio mental. Numa massa todo sentimento, todo ato é contagioso.

Constata-se também a sugestionabilidade, que o contágio acima é apenas um efeito, os indivíduos na massa tem características especiais, às vezes bastantes contrárias as do indivíduo isolado. O estado de um indivíduo que participa de uma massa, é que ele não é mais consciente de seus atos.

Portanto, esvanescimento da personalidade consciente, predominância da personalidade inconsciente, orientação por via de sugestão e de contágio dos sentimentos e das idéias num mesmo sentido, tendência a transformar imediatamente em atos as idéias sugeridas, tais são as principais características do indivíduo na massa.

A massa é impulsiva, volúvel e excitável. É guiada quase que exclusivamente pelo inconsciente. Nada nela é premeditado. Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo, é incapaz de uma vontade persistente. Não tolera qualquer demora entre o seu desejo e a realização dele. Tem o sentimento da onipotência; a noção do impossível desaparece para o indivíduo na massa.

A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela.

Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza.

Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem

Inclinada a todos os extremos, a massa também é excitada apenas por estímulos desmedidos. Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com as imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma coisa.

Além disso, a massa está sujeita ao poder verdadeiramente mágico das palavras, que podem provocar as mais terríveis tormentas na sua alma e também apaziguá-la.

As massas nunca tiveram a sede da verdade. Requerem ilusões, às quais não podem renunciar. “

Neste jogo de forças, o irracional, tem primazia sobre o racional. O inconsciente prevalece sobre o consciente.

O ID ( inconsciente irracional) atesta sua existência de maneira avassaladora !

Mas, onde está o Homem, aquele Ser Humano, dotado de razão e no uso dela ?

A sensação é que ele, simplesmente, não existe !

Bibliografia:

Freud, Sigmund, Psicologia das Massas e Análise do Eu e outros textos, Obras Completas volume 15, tradução Paulo César de Souza, Companhia das Letras, 2011.