quarta-feira, 10 de junho de 2015

LÓGICA

FALSIFICACIONISMO
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)


RESUMO: Este artigo pretende apresentar o falsificacionismo por meio de teses explicitamente formuladas e destacadas no texto junto com as explicações necessárias para o entendimento das mesmas. Constataremos que, teorias altamente falsificáveis devem ser preferidas às menos falsificáveis. Já, as teorias que foram falsificadas devem ser rejeitadas.



A ciência para o falsificacionismo são hipóteses que são experimentalmente propostas com o fim de descrever ou explicar o comportamento de algum aspecto do mundo ou do universo, porém para fazer parte da ciência uma hipótese deve ser falsificável.

Assim, uma hipótese é falsificável se existe uma proposição de observação ou um conjunto delas logicamente possíveis que são inconsistentes com ela, isto é, que se estabelecida como verdadeiras, falsificariam a hipótese.

Exemplo: “Objetos pesados, como um tijolo, quando liberados perto da superfície da Terra, caem diretamente para baixo se não forem impedidos”. Tal exemplo é falsificável, ainda que possa ser verdadeiro. É logicamente possível que o próximo tijolo solto “caia" para cima. Não há contradição lógica envolvida na afirmação “o tijolo cairá para cima quando liberado”, apesar de tal afirmação talvez nunca possa ser observado.

Tratemos agora de um exemplo de afirmação que não satisfaz  ao requisito, ou seja, de uma afirmação infalsificável. Exemplo:  Ou está chovendo ou não está chovendo. Nenhuma proposição de observação logicamente possível poderia refutar. Ela é verdadeira qualquer que seja o tempo. Outro exemplo A sorte é possível na especulação esportiva. Esta afirmação é uma citação de um horóscopo de jornal. Ela tipifica a estratégia tortuosa do vidente. A afirmação é infalsificável. Significa dizer ao leitor que, se ele fizer uma aposta hoje, ele poderá ganhar, o que permanece verdadeiro quer ele aposte ou não, e se ele aposte, quer ele ganhe ou não.

O falsificacionismo exige que as hipóteses científicas sejam falsificáveis, no sentido da discussão acima, pois é somente excluindo um conjunto de proposições de observação logicamente possíveis que uma lei ou teoria é informativa. Se uma afirmação é infalsificável, o mundo pode ser de qualquer propriedade, pode se comportar de qualquer modo, sem chocar com a afirmação. Uma lei ou teoria científica tem que nos dar alguma informação sobre como o mundo de fato se comporta, eliminando assim as outras possíveis maneiras.

A lei “Todos os  planetas se movem em elipses ao redor do sol” é científica por que afirma que os planetas de fato se movem em elipses e elimina órbitas que sejam quadradas ou ovais. A lei faz afirmações decisivas, ela tem conteúdo informativo e é falsificável.

Uma teoria será muito boa se faz afirmações abrangente, ou seja, bastantes amplas,  sobre o mundo, e consequentemente é altamente falsificável, e resiste à falsificação toda vez que é testada.

Exemplo: a) Marte se move numa elipse em torno do sol.  b) Todos os planetas se movem em elipses em torno do seus sóis. Qualquer falsificação de (a) será uma falsificação de (b), mas o contrário não ocorre. A lei (b) é mais abrangente que a lei (a), ela é mais falsificável que a lei (a).

A exigência de que as teorias devem ser altamente falsificáveis tem a consequência de que as teorias devem ser precisas. 

Quanto mais precisa for uma teoria, mais falsificável ela se torna. Exemplo: “Os planetas movem-se em elipses em torno do sol.” É mais precisa que: “Os planetas movem-se em curvas fechadas em torno do sol.” Consequentemente é mais falsificável.

Teorias altamente falsificáveis devem ser preferidas às menos falsificáveis.
As teorias que foram falsificadas devem ser rejeitadas.
A ciência consiste na proposição de hipóteses altamente falsificáveis, seguida de tentativas de falsificá-las.

Os falsificacionistas sofisticados percebem que não basta que: uma hipótese seja falsificável e quanto mais o for, melhor, porém não deve ser falsificada. Uma outra condição se relaciona ao progresso da ciência.

Em geral, uma teoria nova será aceita como digna da consideração dos cientistas se ela for mais falsificável que sua rival, e especialmente se ela prevê um novo tipo de fenômeno não tocado pela rival.

Pois é muito difícil especificar exatamente quão falsificável é uma teoria isolada. Por outro lado, é frequentemente possível comparar graus de falsificabilidade de leis ou teorias. Exemplo: “Todos os pares de corpos se atraem mutuamente com uma força que varia inversamente com o quadrado de sua distância.” É mais falsificável que a afirmação: “Os planetas no sistema solar se atraem mutuamente com uma força que varia inversamente com o quadrado de sua distância.” A segunda é envolvida pela primeira. Qualquer coisa que falsificar a segunda vai falsificar a primeira, mas o inverso não é verdadeiro.

Ressalte-se que os falsificacionistas rejeitam as modificações “ad hoc”. Uma  modificação de uma teoria é denominada “ad hoc”quando a teoria modificada não tiver consequências independentes testáveis, isto é, quando a teria modificada for menos falsificável que a original.

Exemplo: Considere a teoria “ O pão alimenta”. Essa teoria teve problema numa aldeia onde a maioria das pessoas que comeu o pão ficou enferma e morreu. A teoria “( Todo) o pão alimenta foi falsificada. Para evitar esta falsificação a teoria pode ser modificada, assim: “( Todo) o pão, com a exceção daquela partida específica de pão produzida naquela aldeia em questão, alimenta.”Essa é uma modificação “ad hoc”. Observe-se que a hipótese modificada é menos falsificável que a versão original.

Aceitável seria substituir a teoria falsificada pela afirmação “Todo o pão alimenta, exceto o pão feito de trigo contaminado por uma espécie de fungo ( com a especificação do fungo e suas características). Essa teoria modificada não é “ad hoc”, pois leva a novos testes. Ela é independentemente testável, segundo a expressão de Popper. Observe-se que se a hipótese modificada, mais falsificável resiste à falsificação diante dos novos testes, algo de novo foi constatado e haverá progresso.
Temos de um lado teorias que assumem a forma de hipóteses audaciosas e do outro de hipótese cautelosas. Será falsificado se um desses tipos de hipóteses não consegue passar por um teste de observação ou experimento, e confirmado se ele passar por tal teste.

Para a posição falsificacionista mais sofisticada, serão assinaladas avanços significativos pela confirmação de conjecturas audaciosas ou pela falsificação de conjecturas cautelosas.

Do primeiro tipo constituirão uma importante contribuição para a ciência, pois é a descoberta de algo novo, que era previamente desconhecido ou considerado improvável. Ex. A descoberta de Netuno. As observações do século XIX, sobre o movimento do planeta Urano indicavam  que sua órbita se afastava consideravelmente da que fora prevista na teoria de Newton, foi sugerido que existia um planeta que ainda não fora detectado nas adjacências de Urano. A atração entre o planeta hipotético e Urano deveria explicar o afastamento desse último de sua órbita prevista inicialmente. Com cálculos, pois o planeta tinha um tamanho razoável, inspecionando a região apropriada através de um telescópio foi avistado Netuno, pela primeira vez, por Galle. Isso constituiu um avanço significativo. A previsão arriscada foi confirmada.

Já a falsificação de conjecturas cautelosas é informativa, estabelece que o que era visto como uma verdade não-problemática é, na realidade, falso. Exemplo: a demonstração de Russell de que uma teoria ingenuamente estabelecida, que era baseada no que pareciam ser proposições quase auto evidentes, era inconsistente.

Observe que pouco se aprende quando acontece a falsificação de uma hipótese audaciosa ou da confirmação de uma hipótese cautelosa. Por razões óbvias.
Sobre o conhecimento prévio e a hipótese audaciosa, ambos são noções historicamente relativas. Conhecimento prévio num dado momento histórico é o conjunto das teorias científicas aceitas e bem estabelecidas nesse dado momento.

Uma hipótese é audaciosa num dado momento histórico se ela for considerada improvável a luz do conhecimento prévio no momento dado.

O que é visto como hipótese audaciosa num estágio da história da ciência não permanece necessariamente audaciosa posteriormente, num outro estágio. Por exemplo: “a astronomia de Copérnico era audaciosa em 1534, pois se opunha a suposição prévia de que a Terra é estacionária no centro do universo. Obviamente ela não seria considerada audaciosa atualmente.


Referência

CHALMERS, A.F. O que é Ciência afinal? SP: Ed. Brasiliense.2009.