domingo, 3 de dezembro de 2017

MITOS - A CAIXA DE PANDORA

A CAIXA DE PANDORA
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)





Epimeteu era irmão de Prometeu, o titã que modelou o primeiro homem do barro. No entanto, este, por desavenças com Júpiter (Zeus), acabara por incorrer na sua ira.
Temendo que Júpiter viesse a querer se vingar dele ou do gênero humano, Prometeu decidiu um dia alertar o seu desavisado irmão:






- Epimeteu, tome cuidado com os presentes que receber de Júpiter - disse Prometeu. - Já há algum tempo que ele anda furioso comigo, porque ousei roubar o fogo dos céus para levá-lo aos homens.
Epimeteu escutou com atenção as palavras cautelosas do irmão e logo as esqueceu.
Enquanto isso, no Olimpo Júpiter já havia ordenado a Vulcano ( Hefestos) - que tinha também as suas qualidades de artífice, que criasse uma nova criatura, uma parelha para o homem.
- Deixa comigo - disse o deus das forjas.
Fechando-se em sua fuliginosa oficina com a deusa Minerva ( Atena), os dois entregaram-se com empenho à tarefa. Decorrido algum tempo, a obra estava pronta.
- Nunca nada de mais perfeito saiu de suas talentosas mãos, excelente Vulcano! - disse Minerva, entusiasmada.
- Graças a você, cara amiga, que me auxiliou com seus proveitosos conselhos! - disse Vulcano, retribuindo o elogio.
Diante dos dois estava uma linda mulher, quase tão bela quanto a mais bela das deusas.
- Vamos, levemos já nossa invenção a Júpiter, para que ele nos dê logo sua aprovação! - disse: Minerva, certa da aprovação de seu exigente pai.

E não foi de outra maneira. Tão logo o deus dos deuses pôs os seus olhos sobre a nova criatura, eles encheram-se de um brilho intenso.
- Vulcano e Minerva, vocês excederam-se em tudo o que se refere à beleza! - disse Júpiter, aplaudindo com entusiasmo a obra que tinha diante de si.
- Batizamos ela de Pandora, meu pai - disse Minerva. - O que acha deste nome?
- Pandora, Pandora - repetiu Júpiter, deliciado. - Tem um som volátil, aladoMagnífico!
Antes, porém, de dispensar a criatura, chamou-a a um canto.
- Venha cá, Pandora, tenho um presente para você. Quero que você leve isto aos mortais como sinal de meu apreço por eles - disse Júpiter, entregando-lhe uma caixa dourada, ricamente trabalhada com arabescos e filigranas de prata.
Pandora arregalou os olhos ao ver diante de si aquele presente tão magnífico. Sem poder conter-se, quis logo abrir a maravilhosa caixa, mas foi impedida pelo autor do presente.
- Não, minha filha, não faça isto! É para ser mantida sempre assim, fechada.
- Sim. - disse Pandora, obedecendo a Júpiter.

No mesmo dia, os dois presentes chegaram às mão de Epimeteu, que não sabia qual deles admirar mais. Mas em breve fez logo sua escolha: nada podia ser mais admirável do que aquela encantadora criatura que se chamava Pandora.
Entusiasmado, Epimeteu decidiu instalá-la em seu quarto. Depois que ele havia se retirado, Pandora pegou sua caixa dourada e prateada e pôs-se a examiná-la, detalhadamente.
Por várias vezes a encantadora Pandora hesitou se abria ou não a fantástica caixa. Até que um dia, despertando de um sonho maravilhoso que tivera com a caixa, Pandora estendeu a mão imediatamente para caixa. Não podendo mais conter o seu desejo, ergueu a tampa numa volúpia insana de curiosidade que lhe pôs na espinha um arrepio gelado.
Nem bem ergueu um pouquinho a tampa, Pandora, sentiu-a ser arrebatada das mãos, caindo ao chão. Assustada, Pandora viu escapar de dentro da caixa algo a princípio sem forma. Parecia que todos os ventos do mundo se escapavam desordenadamente dali. Imediatamente um deles tomou a forma de uma caveira volátil, parecendo toda feita de cristal e  de vento.
Algo parecido a uma gargalhada escapava por entre os rápidos intervalos das batidas dos maxilares da caveira, não se sabendo precisar se era uma gargalhada de escárnio ou de dor. A caveira então transformou-se num grande e gelado vapor que fugiu pela janela do quarto, perdendo-se no mundo.
Depois surgiram vários rostos deformados que erguiam-se da caixa como se fossem o retrato horrendo da Doença. Logo depois, arremessaram-se também pela janela atrás da primeira criatura, finalmente libertas. Dentre as tantas criaturas que escaparam da caixa, Pandora teve o desgosto de ver personificados todos os vícios que viriam a acometer no futuro a alma humana. 
Pandora, embora aterrorizada, não conseguia fechar a maldita caixa, involuntariamente fascinada com o que assistia, sem saber como pudera desencadear tantas desgraças. Lançando-se de joelhos ao chão, encontrou finalmente a tampa caída a um canto. Enquanto rastejava para alcançá-la sentia rodopiar acima de si uma legião de demônios - a Avareza, a Arrogância, a Crueldade, o Egoísmo, todos os vícios e defeitos humanos, dançavam uma ciranda infernal sobre sua cabeça, até que, arremessando-se à caixa, conseguiu finalmente fechá-la.

Mas o mal já estava feito. Percebendo que nada ficara lá dentro, olhou ainda uma vez para o fundo da caixa. Um rosto maravilhosamente belo e eternamente jovem no entanto, a observava dali.
- Quem é você? - disse Pandora, ainda temerosa.
- Eu sou a Esperança - disse simplesmente o belo rosto.


Foi carregando esse valioso presente que Pandora se apresentou diante dos homens.