Sendo assim, com sua desenvoltura sem igual, Dra. Ândrea estabelece bases de informação nos ensinamentos de Condilac, Locke e Marx, inclusive indicando um filme para orientar-nos o pensamento e compreensão do tema.
Acompanhe o raciocínio da autora deste post que inclusive completou mais uma primavera no dia 30/05.... Parabéns nossa "Andrinha"..... Aliás, quem nos deu o presente foi você.... Te amamos e obrigado por mais este ensaio filosófico!
NASCEMOS HUMANOS?
Qual sua resposta para a pergunta?
Condilac, Locke e Marx nos orienta.
Não, não nascemos
humanos. Pois o caráter humano, a
humanidade, não está em cada indivíduo quando nasce, ela é exterior a esse
indivíduo.
E com a Educação permite a formação da humanidade em cada indivíduo, é Hominização, ou seja, a apropriação do
humano por cada indivíduo.
Como bem descreve Dermeval Saviani a educação é um
fenômeno próprio dos seres humanos.
No filme francês de 1970, O
Garoto Selvagem ou O Menino Selvagem, encontrado no www.youtube.com , dirigido por François Truffaut, baseado no livro de Jean Itard (1774-1838), um
médico francês que se torna responsável pela educação de uma criança selvagem, constatamos isso.
A história baseia-se em
fatos verídicos, narra o encontro de um garoto selvagem, do final do século
XVIII que supostamente nunca teve contato com a sociedade,
não anda como um bípede, nem fala, lê ou escreve. Ele é resgatado com cerca de
doze anos de idade e passa a ser objeto de estudo de um professor ávido pelo
conhecimento da condição humana.
Nesta película fica
demonstrado o desafio em tornar o menino selvagem, humano, as dificuldades em
educá-lo, em hominizá-lo.
Relevante é o papel do
educador no contexto e as limitações próprias do século XVIII.
Pois como observa Bernard Charlot a Educação é um tríplice processo de Humanização, Socialização e Singularização.
A humanização do menino selvagem, Victor, parece tão eficiente que ele não consegue mais viver na natureza. A cultura com seus confortos ( agasalhos, cama, leite, roupa, comida) tornou-se sua segunda natureza.
Já a socialização, ela é
dificultada pelo médico e educador, Itard, pois submete Victor a uma segunda
privação, restringindo-lhe os contatos.
O mesmo se dá quanto à
singularização, violentada pelo médico ao não levar em conta desejos e limites
de seu aluno.
Em que pese as boas intenções de Itard com Victor percebe-se a falta de adequação levando-o a exaustão, para que ele lesse, escrevesse e falasse.
Saviani define adequação como o saber dosado e seqüenciado para efeitos de sua transmissão.
Entretanto, como bem relata o
filósofo e educador, o automatismo é condição de liberdade e que não é possível ser criativo sem dominar
determinados mecanismos, é como apreender a dirigir . A liberdade só será
atingida quando os atos forem dominados.
Esse fenômeno também está presente no
processo de aprendizagem através do qual se dá a assimilação do saber
sistematizado, exemplo da alfabetização, é necessário dominar os mecanismos
próprios da linguagem escrita, é preciso fixar certos automatismos, incorporá-los,
torná-los parte de nosso corpo, integrá-los em nosso próprio ser.
Assim dominadas as formas
básicas, a leitura e a escrita podem fluir com segurança e desenvoltura.
Deste modo a aprendizagem se converte numa espécie de segunda natureza, tal designação é pelo fato de que consideramos atos naturais o saber ler e escrever.
Interessante que, parece uma
habilidade natural e espontânea no entanto trata-se de uma habilidade adquirida
e nada espontânea.
No filme isto é bem demonstrado e a sobrecarga, um tanto quanto questionável, nas tarefas educacionais diárias.
Fica em aberto várias perguntas
a serem respondidas e teses a serem levantadas quanto ao não desenvolvimento da
fala no garoto, em que pese conseguir plenamente se comunicar, a linguagem
verbal não foi desenvolvida.
O fato é que com êxitos e
frustrações, o professor e tutor do menino, serve como mediador do saber.
Embora Itard faça um rigoroso “ mea culpa”, é preciso entende-lo como um intelectual iluminista que via no domínio da fala a superação da animalidade.
Seja no passado, presente ou futuro:
A cada dia, o selvagem que há dentro de nós se torna mais humano.
Eis o devir (tornar-se) contínuo : do selvagem ao humano. Num eterno porvir (futuro).