sábado, 2 de junho de 2012

SERÁ QUE NASCEMOS HUMANOS?

Com a pergunta deste título, Dra. Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo chama-nos a refletir sobre, se de fato nascemos humanos, ou tornamo-nos humanos?!?!?!

Sendo assim, com sua desenvoltura sem igual, Dra. Ândrea estabelece bases de informação nos ensinamentos de Condilac, Locke e Marx, inclusive indicando um filme para orientar-nos o pensamento e compreensão do tema.

Acompanhe o raciocínio da autora deste post que inclusive completou mais uma primavera no dia 30/05.... Parabéns nossa "Andrinha"..... Aliás, quem nos deu o presente foi você.... Te amamos e obrigado por mais este ensaio filosófico!

NASCEMOS HUMANOS?

                          Qual sua resposta para a pergunta?                    
Condilac, Locke e Marx nos orienta.
                      Não, não nascemos humanos.  Pois o caráter humano, a humanidade, não está em cada indivíduo quando nasce, ela é exterior a esse indivíduo.       

                       Mas o que é humano, o que é humanidade?

                       Segundo Bernard Charlot, considera-se humano, o conjunto  do que a espécie humana produziu ao longo de sua história: prática, saberes, conceitos, sentimentos, obras, etc.

                     E com a Educação permite a formação da humanidade em cada indivíduo, é Hominização, ou seja, a apropriação do humano por cada indivíduo.

                     Como bem descreve Dermeval Saviani a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos.

                     No filme francês de 1970, O Garoto Selvagem ou  O Menino Selvagem, encontrado no www.youtube.com , dirigido por François Truffaut, baseado no livro de Jean Itard (1774-1838), um médico francês que se torna responsável pela educação de uma criança selvagem, constatamos isso.

                    A história baseia-se em fatos verídicos, narra o encontro de um garoto selvagem, do final do século XVIII que supostamente nunca teve contato com a sociedade, não anda como um bípede, nem fala, lê ou escreve. Ele é resgatado com cerca de doze anos de idade e passa a ser objeto de estudo de um professor ávido pelo conhecimento da condição humana.
                    Nesta película fica demonstrado o desafio em tornar o menino selvagem, humano, as dificuldades em educá-lo, em hominizá-lo.

                   Relevante é o papel do educador no contexto e as limitações próprias do século XVIII.
                   Pois como observa Bernard Charlot a Educação é um tríplice processo de Humanização, Socialização e Singularização.      

                  A humanização do menino selvagem, Victor, parece tão eficiente que ele não consegue mais viver na natureza. A cultura com seus confortos ( agasalhos, cama, leite, roupa, comida) tornou-se sua segunda natureza.

                 Já a socialização, ela é dificultada pelo médico e educador, Itard, pois submete Victor a uma segunda privação, restringindo-lhe os contatos.

                O mesmo se dá quanto à singularização, violentada pelo médico ao não levar em conta desejos e limites de seu aluno.

                Em que pese as boas intenções de Itard com Victor percebe-se a falta de adequação levando-o a exaustão, para que ele lesse, escrevesse e falasse.

              Saviani define adequação como o saber dosado e seqüenciado para efeitos de sua transmissão.

                 Entretanto, como bem relata o filósofo e educador, o automatismo é condição de liberdade e que não é possível ser criativo sem dominar determinados mecanismos, é como apreender a dirigir . A liberdade só será atingida quando os atos forem dominados.

                    Esse fenômeno também está presente no processo de aprendizagem através do qual se dá a assimilação do saber sistematizado, exemplo da alfabetização, é necessário dominar os mecanismos próprios da linguagem escrita, é preciso fixar certos automatismos, incorporá-los, torná-los parte de nosso corpo, integrá-los em nosso próprio ser.
                Assim dominadas as formas básicas, a leitura e a escrita podem fluir com segurança e desenvoltura.

                Deste modo a aprendizagem se converte numa espécie de segunda natureza, tal designação é pelo fato de que consideramos atos naturais o saber ler e escrever.

                Interessante que, parece uma habilidade natural e espontânea no entanto trata-se de uma habilidade adquirida e nada espontânea.

               No filme isto é bem demonstrado e a sobrecarga, um tanto quanto questionável, nas tarefas educacionais diárias.

                Fica em aberto várias perguntas a serem respondidas e teses a serem levantadas quanto ao não desenvolvimento da fala no garoto, em que pese conseguir plenamente se comunicar, a linguagem verbal não foi desenvolvida.

              O fato é que com êxitos e frustrações, o professor e tutor do menino, serve como mediador do saber.

            Embora Itard faça um rigoroso “ mea culpa”, é preciso entende-lo como um intelectual iluminista que via no domínio da fala a superação da animalidade.          

              Seja no passado, presente ou futuro:         

              A cada dia, o selvagem que  há dentro de nós se torna mais humano.

             Eis o  devir (tornar-se) contínuo : do selvagem ao humano. Num eterno porvir (futuro).