Da influência do Iluminismo nos costumes.
(Por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
Quando falamos em Iluminismo nos encontramos diante de uma multiplicidade de pontos de vista doutrinários heterogêneos e na sua aversão aos grandes sistemas filosóficos acabados.
Achamo-nos numa transformação de mentalidades. Numa mutação radical.
A descoberta deste mundo é compreendida inteiramente quando, situamos na luta que opõe a nova classe em ascensão, a burguesia, contra à velha ordem.
Diderot, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, dentre outros iluminista, foram os herdeiros de uma transformação ocorrida já no século XVII.
Francis Bacon, René Descartes, John Locke, Spinoza e Isaac Newton, eis aí os marcos iniciais e fundamentais do acontecimento, que já começava a despontar nos séculos XV e XVI no Renascimento.
Desde o século XVII já assistíamos aos golpes fatais contra a velha escolástica.
Há uma nova atitude do homem frente ao universo.
A Razão se propõe como instrumento soberano de conhecimento e ao mesmo tempo de reger os destinos históricos do homem.
Descortinemos o que acontecia naquele momento, mais precisamente, a influência do Iluminismo nos costumes.
1) Nas cartas de baralho as figuras dos filósofos da época
Um original de cartas de 1793, mostra no lugar do rei de paus, temos a figura de Rousseau. No lugar do rei de ouros, a de Voltaire.
O baralho reivindicando para os filósofos o lugar real, realiza simbolicamente um ideal, que a gestão da sociedade, da cidade, seja submetida ao império da Razão, eis aí a idéia mestra das Luzes, a palavra de ordem principal. Velha utopia que encontrou sua primeira formulação nas páginas da República de Platão.
2) O Poder Público patrocinando pesquisas científicas
Do ponto de vista do conteúdo das doutrinas ou das grandes descobertas, o século XVIII pouco acrescenta na realidade às conquistas anteriores.
Não há dúvida de que na pesquisa o clima é de notável efervescência. Vemos o próprio poder público patrocinando dispendiosos experimentos científicos: por ex., o governo de Luís XV envia equipes de sábios ao Peru e à Lapônia para medir os graus do meridiano em busca de confirmação para a teoria newtoniana.
3) Multiplicam-se as Academias científicas
4) Nova atitude do Filósofo: sai do círculo fechado de seus pares e vai para os famosos salões privados:
O que é próprio do século XVIII é a postura, a atitude que se liga ao nome de filósofo. Ele não será mais visto como um especialista a debater idéias no círculo fechado de seus pares. Sua ambição é sair pelas ruas, ou melhor, pelos famosos salões privados mantidos por personalidades, em intermináveis noitadas de discussões que são uma instituição típica do século.
5) Ampliam-se os círculos de pessoas que lêem:
O sonho desses intelectuais é intervir nos acontecimentos e desenvolver uma intensa atividade pedagógica e civilizatória. Graças a isto ampliam-se os círculos de pessoas que lêem, constitui-se um público cultivado e se organiza o espaço de uma verdadeira “opinião pública”.
Além disso, o que diferencia o novo racionalismo daquele dos precursores, é que não pretendem edificar sistemas acabados. A Razão é concebida de forma diferente. Enquanto para os precursores consistia na região em que habitam as verdades eternas, ela passa a ser vista agora como forma determinada de aquisição. É uma energia que nos conduz ao descobrimento da verdade, a ser apreciada não pelos seus resultados, mas em seu exercício e em sua ação.
6) Incentivo às mães amamentarem seus filhos
Porque Rousseau escreveu no Emílio que as mães deviam amamentar os seus filhos com seu próprio leite, depois do grande sucesso do livro várias mães saíam em público amamentando. Até as damas da corte iam com seus bebês para os teatros, para a Ópera e ternamente, durante o intervalo, amamentavam os seus lindos bebês.
7) Época de crítica cultural e Relatos de Viagens
Rousseau com o Discurso sobre as Ciências e as Artes e depois com o Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens, faz uma crítica implacável a sociedade vigente.
Assim também Montesquieu, com as Cartas Persas satiriza os costumes e critica as instituições européia. Esta obra também se caracteriza por relatos de viagem.
8) Inaugura-se uma análise de ciência política
Com Montesquieu inaugura-se uma análise de ciência política. Para ele não há leis justas ou injustas deste ponto de vista, mas leis mais ou menos adequadas a um determinado povo, circunstâncias, época e lugar.
9) Dogma da Declaração dos Direitos do Homem de 1789: a Tripartição dos Poderes
Na sua obra O Espírito das Leis, Montesquieu, formulará a célebre teoria da separação e distinção dos poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Esta teoria será transformada em verdadeiro dogma pela Declaração dos Direitos do Homem de 1789.
10) Fonte de inspiração dos revolucionários
Apesar de Montesquieu ser fiel à nobreza e as suas convicções aristocráticas, graças a uma certa ambigüidade que reina em seu texto, ele será amplamente utilizado e admirado pelos revolucionários de 1789.
11) A influencia das Luzes na independência dos Estados Unidos
O principal centro das Luzes foi a França e sua capital, Paris, mas também se espalharam por toda a Europa e até mesmo as Américas, especialmente os Estados Unidos, sobre cuja formação e independência nacional influíram decisivamente.
12) A elaboração da Grande Enciclopédia
Quando se fala na Filosofia das Luzes pensa-se logo na grande Enciclopédia. Não era uma enciclopédia como outra qualquer. Dedica-se sobretudo às ciências, às artes e aos ofícios e busca mostrar as ligações que se estabelecem entre seus diferentes setores.Foram convocados os espíritos mais brilhantes como colaboradores da Enciclopédia, tais como: Diderot, Montesquieu, Voltaire e Rousseau, além de especialista das mais diversas matérias e profissionais liberais
Difícil é dar uma idéia do conteúdo variado do conjunto de textos que compõem a Enciclopédia. Se o catolicismo teve sua Suma Teológica em São Tomás de Aquino, a burguesia também teve na Enciclopédia a sua Suma Filosófica.
13) A Influências das Luzes em alguns Reis: os Reis-Filósofos?
Alguns monarcas europeus tentaram encarnar o ideal, em termos políticos, da grande aspiração própria do Iluminismo e de acordo com a qual a Razão humana, apossando-se do poder político, estaria em condições de conduzir o homem à plena realização do seu destino.
14) Frederico II da Prússia
De todos os déspotas esclarecidos, o mais representativo é , sem dúvida, o célebre Frederico II (1712-1786) da Prússia. Também conhecido como Frederico, o Grande. Expressão perfeita do rei-filósofo, já que, além da sua atividade como governante, legou-nos uma curiosa e não destituída de importância obra teórica filosófica.
Frederico foi incentivador das letras, artes, ciências e modernizador das regiões atrasadas.
Tendo reinado durante quarenta e seis anos, o velho Fritz se pôs principalmente a serviço do desenvolvimento econômico.
15) O Imperador José I da Áustria foi agente modernizador e tolerante com as religiões
Buscou introduzir reformas no país que modificassem o exagero do atraso medieval. Em que pese ser católico, sua política religiosa foi pela tolerância com todas as religiões, influenciado pelas Cartas Inglesas de Voltaire.
16) A Imperatriz Catarina II da Rússia também foi modernizadora
Leitora apaixonada dos Enciclopedistas e correspondente de alguns deles, como Voltaire e Diderot.
Copiou grande parte O Espírito das Leis de Montesquieu.
Funcionou igualmente como agente modernizador. Nas diretrizes que enviou a uma Assembléia de deputados em 1767, Catarina copiou em grande parte O Espírito das Leis de Montesquieu.
Edificou um grande parque industrial de minas de metalurgia na região dos Montes Urais.
Destarte, não há como negar, o brilho das luzes sobre o costume de seu povo !
A influência do pensamento no comportamento.
A relação de causa e efeito.
Bibliografia:
Salinas Fortes, L. R. O iluminismo e os reis filósofos. Ed.
Brasiliense, São Paulo, 2004.