“David Hume e as Paixões”
(por Ândrea
Cristina Pimentel Palazzolo).
David Hume (1711/76) filósofo, historiador e
ensaísta escocês, compõe o triunvirato empirista britânico, juntamente com
Locke e Berkeley, em oposição ao racionalismo inaugurado por Descartes. Nesse
movimento, levando os princípios do empirismo às últimas conseqüências, é lhe
reservado o papel de conduzi-lo à sua inevitável conclusão cética acerca das
causas, do mundo exterior e da própria mente.
De forma elegante dá um novo tom à filosofia, com
muita simplicidade e convicção descarta um arsenal de argumentos complexos. Uma
espécie de filosofia popular e científica, uma pop-filosofia. Como ideal, uma
clareza , que não é a das idéias, mas as das relações e das operações. É esta
nitidez que tentará impor nos seus livros. Empirista quanto ao problema da
origem do conhecimento, cético em relação à metafísica e utilitário altruísta
em assuntos morais e políticos.
Também há um tom de psicologismo em algumas de
suas obras. Podemos dizer que, David Hume foi o precursor de temas
psicológicos, ao qual ele tratava como lógica.
O Homem será objeto investigado e sujeito investigante, ou seja, o homem será objeto e sujeito de si mesmo. Nós não somos apenas simples seres que raciocinam, mas também objeto de raciocínio. Surge a auto reflexibilidade. Desponta as ciências humanas.
No Tratado da Natureza Humana (publicado em
1739-1740), ele estabelece que as paixões, não a razão, determinam a vontade
e motivam as ações humanas.
Uma célebre passagem do livro 2, Parte 3, Seção 3”Dos
motivos que influenciam a vontade”, afirma que:
“A razão é, e deve ser apenas a escrava das
paixões, e não pode aspirar a outra função além de servir e obedecer a elas.”
Assim, Hume afirma primeiro que sozinha, a razão
jamais pode ser motivo de qualquer vontade e, em segundo lugar, que a razão
jamais pode opor a paixão na direção da vontade.
Embora a força retórica dessa passagem sugira uma
disputa entre razão e paixão pelo “governo da vontade e das ações”, Hume
adverte que não se trata propriamente de um combate ou luta por dominância. A
questão, para ele, é encontrar a fonte última de determinação da vontade. Diz
ele:
“ É evidente que, quando temos a
perspectiva de vir a sentir dor ou prazer por causa de um objeto, sentimos, em
consequência disso, uma emoção de aversão ou de propensão, e somos levados a
evitar ou a abraçar aquilo que nos proporcionará esse desprazer ou essa
satisfação.”
Portanto, só agimos e nos movemos no sentido de
buscar o prazer ou evitar a dor.
Num estado de indiferença, permaneceríamos
imóveis. Assim sendo, a fonte última reside nas paixões.
Hume, no Livro 3, Parte 1, Seção 1, “As
distinções morais não são derivadas da razão”, define razão:
“A razão é a descoberta da verdade ou
da falsidade. A verdade e a falsidade consistem no acordo e no desacordo
seja quanto à relação real de idéias, seja quanto à existência e aos fatos
reais.”
Segundo ele a razão não tem o poder de
produzir ações. Ela não origina nem impede volição e, sozinha, não é capaz
de nos motivar. Na direção da vontade, seu papel reduz-se ao de um
acompanhante auxiliar e instrumental. A razão julga sobre os meios
apropriados para se obter os fins e sobre a existência dos objetos da paixão.
Se ela descobre ser falsa a suposição de existência, ou insuficientes os meios,
já não há mais por que realizar a ação proposta a inclinação para realizá-la. Quando
se remove a paixão, a propensão à ação cessa imediatamente.
Se a moral motiva, ela deve se fundar nas
paixões. Com efeito, para Hume, as regras da motivação não são conclusões da
razão, ou seja, não são descobertas por raciocínio demonstrativo a priori ,
nem por raciocínio provável a posteriori. A distinção entre virtudes e
vícios é feita pelos sentimentos – os juízos morais expressam sentimentos de
aprovação ou desaprovação, que são uma espécie de prazer e de dor na contemplação
de qualidades úteis ou agradáveis ao seu possuidor ou aos outros.
Que qualidades aprovamos? A lista das virtudes
naturais é imensa. Por exemplo, as qualidades agradáveis a seu possuidor
incluem alegria, orgulho, dignidade, serenidade; qualidades úteis ao possuidor
são prudência, bom senso, discrição, constância; úteis aos outros são a
generosidade, gratidão, gentileza e coragem; e agradáveis aos outros são
polidez, modéstia e humor. No caso da justiça e outras virtudes artificiais
(que dependem das convenções humanas), adquirimos simpatia pelo interesse
público e o objeto de aprovação passa a ser a prática como um todo.
“Só agimos e nos movemos no sentido de
buscar o prazer ou de evitar a dor”.
Bibliografia consultada:
- Hume David, Tratado da Natureza Humana,
editora Unesp.
- Guimarães Lívia Maria, Os Filósofos
Clássicos da Filosofia , Vol. I de Sócrates a Rousseau , Rossano Pecoraro (org)
Editora Vozes, Petrópolis, 2008.
- História da Filosofia – Direção de François
Châtelet , vol. 2, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995.
- Os Pensadores, História das Grandes Idéias
do Mundo Ocidental, Vol. II, Abril Cultural, 1972 – São Paulo.