Início
da Filosofia no Ocidente
(Ândrea Cristina
Pimentel Palazzolo)
Introdução
A palavra Filosofia é
formada de dois termos gregos : filós (amigo) e sofia (sabedoria). O
sentido da junção dos dois radicais seria de que o filósofo não é um detentor
de todo o saber, mas um pretendente à sabedoria.
De acordo com Cícero,
fora Pitágoras o criador do vocábulo. “Quando o príncipe Leonte”, comenta ele,
“perguntou a Pitágoras em que arte era versado, respondeu-lhe que em nenhuma.
Era um filósofo, isto é, um estudioso e amigo da sabedoria, um fílos-sofós
“.
Gênese
do pensamento filosófico:
A humanidade, no seu
lento e progressivo desenvolvimento, evoluiu do pensamento mítico para o
racional, o que se verificou por volta de 800 a 500 a. C.. O pensamento
racional apareceu como filosofia, assim como o pensamento anterior se
cristalizou em forma de mito. A história da filosofia se confunde, por isso,
com a própria história da razão humana.
Assim, haveria na
história do pensamento humano um período mítico e um período racional que se
desenvolveu primeiramente em filosofia e posteriormente em ciência.
Fase mítica:
Mito é uma explicação
muitas vezes fantástica, motivado pelo meio físico e humano em que vive a
coletividade. Produto de uma criação coletiva, o mito é uma sabedoria
comunitária. O homem primitivo vive num mundo em contato direto com as forças
da natureza, todas personificadas por entidades que exigem dos indivíduos determinadas
atitudes. O ambiente é infinitamente mais forte.
A fase mítica caracteriza-se pela presença do
sagrado, pela impossibilidade do homem pensar a realidade sem o Divino, os
deuses tem primazia. O mito quer explicar o real, como o real surgiu. Ele tem a
função de por tudo em ordem.
A estrutura do
pensamento mítico é cíclica: começo, desenvolvimento e volta tudo para o mesmo
lugar.
A estrutura do tempo é
circular. E o mundo real dentro desse ciclo, o que tem valor é o princípio, ou
seja, o tempo primordial, que é o tempo da criação. É a natureza que fornece o
pensamento do ciclo. O tempo cíclico é um tempo da eternidade. Por ex. Apesar
da passagem do tempo Afrodite não perde sua beleza e nem Marte perde sua força,
etc.
A ordem está garantida
pela forma circular do mito.
Posteriormente, quando
é rompida a estrutura circular de tempo e torna-se linear ( na linearidade o
tempo não volta, não retorna) o mito perde a força, o homem começa a ter um papel significativo na realidade.
Tragédia Grega
A tragédia grega revelando
coisas, ideias, mostra que o mito já não funciona. A tragédia focaliza mais a
ação humana. Pergunta-se:
Pode o homem interferir
no seu destino?
A tragédia é o embate
do homem e seu destino. Porém, nas tragédias o homem tem visão limitada, ele
tenta escapar de seu destino, mas não consegue, quando ele foge do destino ele
cumpre o destino.
Começa a estrutura linear nas tragédias, ou seja, pensar sobre o
futuro.
Início da filosofia
A filosofia aparece na
Grécia com a tentativa de explicar o real sem a interferência do sagrado. É a
tentativa de entender o mundo. Através da reflexão, a meditação ativa e a razão
crítica elaborara-se um outro tipo de explicação, a racional ou filosófica. O
homem tem oportunidade de desenvolver sua inteligência e de criar explicações,
não mais baseadas na tradição mítica ou nas forças divinas. Para as novas
explicações, recorre simplesmente às forças racionais de sua mente.
Anteriormente, as
concepções teogônicas dos poetas tradicionais, especialmente de Homero e de
Hesíodo, vinha-se procurando e de certa maneira dando resposta a pergunta, “ o que é a realidade? ”, mediante a
utilização de forças divinas e de relatos mitológicos. Tais concepções por mais
belas que sejam, não fazem parte da filosofia porque o que caracteriza a
resposta filosófica é a sua inteira racionalidade. Procurou-se na Grécia, então, por meio do
pensamento, descobrir em que consiste essa realidade.
O espanto - Thaumadzein
A filosofia começa a
indagação do ser, em termos de espanto, de perplexidade, como é possível a
existência desse mundo. O que faz com o que é, seja?
O mito já não é
suficiente para explicar a realidade.
Tornou-se
um axioma, tanto para Platão quanto para
Aristóteles, que esse espanto é o início da filosofia. E é essa relação com uma
experiência concreta e única que separou a escola socrática de todas as
filosofias precedentes.( Arendt Hannah, A dignidade da Política – Ensaios e
Conferências, Filosofia e Política, editora Relume Dumará, R.J. 1993 , trad.
Antonio Abranches)
Sobre: o ser, ente,
doxa ( opinião), aléthea ( verdade) e logos ( falar discursivo), na Grécia,
naquele momento:
O ser é um vigor que
permanece nas coisas (entes) e quando se recolhe as coisas deixam de ser. O ciclo do ser é mostrar-se e esconder-se.
Ente é tudo que tem
manifestação. Quando o ser se recolhe o ente morre, mas o ser continua. O ente
é mutável o ser é sempre, o ser é a essência de tudo.
Na doxa (opinião) tudo
poder ser verdadeiro. Todos tem direito a sua própria opinião e essa depende de
onde a pessoa está.
A verdade é a aléthea
quer dizer desvelamento . O movimento próprio do ser de aparecer e de
ocultar-se, assim, da verdade do ser que aparece e oculta-se. Tudo que é, é
ser. Quando o ser se recolhe as coisas
deixam de ser. O ciclo do ser é mostrar-se e recolher-se, mostrar e
recolher-se... Assim o ser, a
verdade, desvela, revela, desvela, revela... Num movimento circular de aparecer
e ocultar. A partir disso constrói-se uma doxa (opinião), do ponto de onde se
está vendo, que talvez seja diferente da doxa de outra pessoa. Tudo depende de
onde a pessoa se encontra.
O logos no sentido de
falar, recolhe o que vê e expressa o que se mostra. O logos está sempre
atrelado a aléthea, a verdade. Só pode-se recolher e expressar o que se mostra
e o logos é a captação disso. O logos nesse sentido é um modo de acontecimento
desse desvelamento.
Primeiros filósofos: Os
Pré-Socráticos – séc. VII a V a.C.
Os Pré-Socráticos foram
os primeiros Filósofos gregos que viveram entre os séculos VII a V a.C..
Habitaram a cidade de Atenas antes dos sofistas e nomeadamente antes de
Sócrates. Há semelhança de Sócrates conhecem-se apenas notícias e fragmentos
das suas obras, que só chegaram até nós porque foram citados ou copiados em
obras de Filósofos posteriores.
Os primeiros filósofos
gregos dedicaram-se ao problema de determinar qual era o princípio material de
que era constituída a natureza ordem. Foram chamados de naturalistas, pois
procuravam responder a questões do tipo: O que é a natureza ou qual o
fundamento último das coisas?
Foram considerados como
pessoas desprendias das preocupações materiais do dia a dia e que se dedicavam
apaixonadamente à contemplação da natureza.
Tales
de Mileto foi o primeiro filósofo grego, viveu por volta do
ano 600 a. C... Como todos os outros pensadores helênicos, com algumas
exceções, começa com a pergunta: - O que é a realidade?
Segundo Aristóteles,
Tales afirmava que a substância original, o arché de todas as coisas,
era a água.
Preocupava-se em encontrar a unidade por detrás da
multiplicidade dos objetos do universo e os princípio de explicação da natureza
a partir da própria natureza, assim como Anaxímandro e Anaxímenes.
Anaxímandro
é o segundo filósofo, para ele tudo provinha de uma substância etérea,
infinita, invisível: o apeíron ( o indefinido).
Para Anaxímenes a substância fundamental era
o ar.
Anaxágoras
foi o primeiro filósofo registrado pela história a ter afirmada a existência de
um princípio inteligente como causa da ordem do mundo. Para ele o espírito é
que ordenava tudo e daí tudo era causa.
Empédocles
foi o criador da teoria dos quatro elementos que vigoraria até a era moderna: terra, ar, água e fogo, seriam
os componentes últimos das coisas.
Para Heráclito tudo está em movimento nada
permanece imóvel, o mundo é como uma correnteza. Um fogo consumidor, mais que
uma correnteza fluida é um modelo de mudança constante, sempre se consumindo,
sempre revigorado. Heráclito disse uma vez que o mundo era um fogo sempre vivo,
o mar e a Terra as cinzas dessa fogueira eterna. Este mundo flamejante é o
único que há, e não é governado por deuses ou por homens, mas por meio do
Logos. Considerava haver um ciclo do devir que em tudo representava harmonia,
com efeito na circunferência, o começo e o fim coincidem. Defendia que de um
lado existia o Logos, que governava
todas as coisas e, do outro, o devir que se desenrolava no interior de um
círculo apertado por laços poderosos.
Já Parmênides partia da crença de que a realidade é eterna e
intemporal, o Ser . Tudo o que existe, tudo o que possa ser pensado, não
é para Parmênides senão o Ser. Tudo é ser. O ser é sempre, é infindável, pleno,
eterno.
Os Sofistas
Mestres da retórica da Grécia
Antiga, ganhavam para ensinar, porém não se importavam com os fins morais de
seus ensinamentos. Ensinavam a argumentar bem para convencer sem nenhum
compromisso com a verdade.
Utilizavam da “doxa”
(opinião) que bem argumentada convence e muitas vezes manipula.
Um dos sofistas mais
importantes da época era Protágoras. A
frase “ Eu não busco a verdade, mas invento razões” é dele. E por essa frase dá
para perceber o “ espírito” sofista.
Sócrates – séc.V a.C.
Sócrates, nascido em
Atenas, é reverenciado como o inaugurador da primeira grande era da filosofia,
e portanto, em certo sentido, da própria filosofia. Todos os pensadores
anteriores são de certa forma considerados em conjunto como “pré-socráticos”.
Utilizando-se de perguntas, da ironia e da maiêutica Sócrates fazia com que os
jovens pensassem. Ele acreditava que a alma sabia o que era a verdade.
Platão-
séc. séc. Ve IV a.C.
Filósofo grego nascido
em Atenas no séc. V a.C., foi discípulo de Sócrates. Para Platão o mundo em que vivemos é apenas
uma cópia imperfeita e degradada de um mundo superior imaterial, no qual estão
as essências eternas, perfeitas e imutáveis de todos os seres. E a verdade é
uma só e absoluta, única, imutável e eterna. Ela é um conceito uma ideia.
Aristóteles
- séc. IV a.C.
Discípulo de Platão, considerado o “pai da lógica”. Precursor da ciência experimental, realizou importantes observações sobre a vida animal, o clima e o movimento, elaborando uma física que foi admitida até a Renascença. Uma de suas características marcantes é seu apreço pela organização hierárquica dos objetos e de seus saberes. Nestas hierarquias, sobressai sempre um fundo teleológico, isto é, que organiza as realizações segundo um determinado fim ou finalidade ( telos). Mas é sobre tudo no campo da ação ética e na Política que o pensamento de Aristóteles tem não apenas maior importância, como também maior persistência na atualidade.
Quanto a verdade, para
ele, é realmente uma ideia. Só que essa verdade (ideia) não está fora desse
mundo, essa verdade existe nesse mundo e está presente em cada coisa que
é. As ideias estão em todas as coisas em
combinação com outras coisas. Para Aristóteles as coisas são originadas por
causas diferentes.
Em Aristóteles a
verdade é de fato sutil, é conceito, mas ela é alguma coisa que o intelecto vai
descobrir, vai compreender essa verdade. O intelecto é capaz de apreender a
verdade, apreendendo o ser de tudo que é. A verdade é o que uma coisa é. É
definição.
Para o estagirita (
Aristóteles é de Estagira) capta-se a realidade pelo trabalho do intelecto, ao
contrário de Platão que entende ser pela lembrança, e Sócrates entende que é pela
alma através da convicção.
Conclusão
A filosofia, assim,
surge com a busca de uma explicação racional para o mundo, busca que se opõe às
explicações míticas e místicas do mundo mágico-religioso.
Pode-se dizer, em certo sentido, que a
filosofia surge quando os gregos inventaram a razão (na forma como nós a
concebemos), quer dizer, simplesmente, inventar novas ferramentas para conhecer
a realidade. De fato, é verdade que só com Platão e Aristóteles a filosofia
começa a ser verdadeiramente sistematizada. Mas é preciso considerar, como
disse o próprio Nietzsche, que os primeiros filósofos inventaram todos os
arquétipos que seriam utilizados posteriormente, além do fato, é claro, de
terem inventado a própria ciência ocidental ( com seus conceitos fundamentais).
A filosofia é diferentes “modos de pensar”.
Em tudo e por tudo, a
finalidade maior da filosofia é libertar o homem da ignorância, da ingenuidade
e do obscurantismo por meio da reflexão da realidade e de si mesmo.
Uma vida sem busca não
é digna de ser vivida. (Sócrates)
Referências:
1) Anotações de aula da
matéria em questão;
2) Schopke Regina,
Dicionário Filosófico, Conceitos Fundamentais, editora Martins Fontes, São
Paulo 2010;
3) Kenny Anthony,Filosofia Antiga, Uma nova História
da Filosofia Ocidental, Vol.I, editora Loyola, S.P. , 2011;
4) Arendt Hannah, A
dignidade da Política – Ensaios e Conferências, Filosofia e Política, editora
Relume Dumará, R.J. 1993 , trad. Antonio Abranches.