BUDISMO
( por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
Resumo: Este
artigo pretende discorrer sobre: “Buda”, “O Budismo”, “ As quatro verdades
nobre” e “O caminho Óctuplo”, a partir do texto de Huston Smith.
I – Sobre Buda
O Budismo começa
com um homem que despertou. Em seus últimos anos de vida, quando a Índia se
incendiava com sua mensagem e até reis vinham prostrar-se diante dele. A raiz
sânscrita ‘budh” denota tanto o despertar quando o saber. Buda significa o
“iluminado” ou o “desperto”. O budismo
começa com um homem que sacudiu fora o atordoamento, o torpor, os devaneios
oníricos da percepção consciente comum.
Buda nasceu por
volta de 563 a. C. na região que é hoje o Nepal . Seu nome era Sidarta Gautama,
dos Sakyas. Seu pai era um rei. Casou-se aos 16 anos com uma princesa que lhe
deu um filho chamado Rahula.
Por volta dos 20
anos, desceu sobre ele um descontentamento que levaria à ruptura completa com
sua situação mundana. Decidiu seguir a vocação de buscador da verdade. Certa
noite, aos 29 anos, ele cortou todos os laços com o passado.
Seguiu-se quase
meio século, durante o qual Buda percorreu as estradas poeirentas da Índia até
seus cabelos embranquecerem, seu passo perder a firmeza e seu corpo nada mais
ser que um frágil envoltório, pregando sua redentora mensagem de anulação do
ego. ‘ A ele vinham as pessoas, atravessando o país desde terras distantes,
para fazer perguntas, e a todas ele dava as boas-vindas.” Havia, na verdade,
uma simplicidade surpreendente naquele homem diante de quem os reis se
curvavam.
Apesar de sua
objetividade em relação a si mesmo, havia constante pressão, durante sua vida,
para transformá-lo em um deus. Buda rejeitou categoricamente.
II - O Budismo
Ao passarmos de
Buda, o homem, para o budismo, a religião, é imperativo observar esta última
contra o pano de fundo do hinduísmo a partir do qual ela cresceu. Ao contrário do hinduísmo, que surgiu por
adição espiritual lenta e em grande parte imperceptível, a religião de Buda
surgiu da noite para o dia, totalmente formada. O budismo extraiu seu sangue
vital do hinduísmo; mas, contra as corrupções reinantes no hinduísmo, o budismo
recuou como um chicote e contra-atacou – duramente.
Buda pregou uma
religião: 1) desprovida de autoridade; 2) desprovida de rituais; 3) que
contornava a especulação; 4) desprovida de tradição; 5) de grande esforço
pessoal; 6) desprovida do sobrenatural.
O budismo
original nos apresenta uma versão da religião que é única.
O budismo
original pode ser caracterizado nos seguintes termos:
1) era empírico: em todas as questões , a experiência pessoal
era o principal teste da verdade.
2) era científico: dirigia a atenção para a descoberta das
relações de causa e efeito que afetavam a experiência. Não há efeito sem a sua
causa.
3) era Pragmático: um pragmatismo
transcendental, se preocupando com a solução dos problemas.
4) era terapêutico: as palavras de Pasteur “
Não te pergunto qual a tua opinião, nem qual a tua religião; pergunto, que
estás sofrendo?”, bem poderiam ser de Buda.
5) era psicológico: Buda começava com o
destino humano, seus problemas e a dinâmica do seu enfrentamento.
6) era igualitário: insistia que as mulheres
eram tão capazes de alcançar a iluminação quanto os homens. Buda rompeu com o
sistema de castas e abriu sua ordem a todos.
7) era dirigido às
pessoas: Buda não era cego ao lado social da natureza humana. Seu apelo, no
fim, foi dirigido ao indivíduo e suas próprias dificuldades.
III- As Quatro
Nobres Verdades:
A maioria das
pessoas provavelmente vacilaria se solicitada a listar, na forma de
proposições, suas quatro convicções mais importantes sobre a vida. As Quatro
Nobres Verdades constituem a resposta de Buda a esse pedido. Juntas, elas
surgem como os axiomas de seu sistema, os postulados dos quais deriva
logicamente o restante de seus ensinamentos.
A Primeira Nobre
Verdade é que a vida é “dukkha”, traduzido geralmente como “sofrimento”. Embora
longe de ser seu significado total, o sofrimento é parte importante desse
significado.
Mesmo Albert
Schweitzer, que considerava a India pessimista, repetiu a avaliação de Buda
quase ao pé da letra quando escreveu: “ Somente em alguns raros momentos
senti-me realmente feliz por estar vivo. Eu não conseguia deixar de sentir, com
uma compaixão cheia de remorso, toda a dor que via à minha volta, não só a dor
humana, mas a dor de toda a criação.”
Dukka, portanto,
designa a dor que , até certo ponto, matiza toda a existência finita. As
implicações construtivas dessa palavra vêm à luz quando descobrimos que era
usada, na língua páli, para indicar a roda cujos eixos estivessem fora de
centro ou um osso que tivesse saído da articulação. ( Uma metáfora moderna
seria o carrinho de supermercado que alguém tenta conduzir segurando-o no lado
oposto ao pegador.)
O significado
exato da Primeira Nobre Verdade é este: a Vida ( no estado em que ela se
colocou) está deslocada. Algo saiu errado. Ela se desarticulou. Com sua base
não é genuína, a fricção (conflito interpessoal) é excessiva, o movimento (
criatividade) é bloqueado, e ela causa dor.
Com sua mente
analítica, Buda não se contentou em deixar a Primeira Verdade nessa forma
generalizada. Prosseguindo, ele apontou seis momentos nos quais o deslocamento
da vida se torna flagrantemente evidente. Ricos ou pobres, medianos ou talentosos,
todos os seres humanos experimentam:
1) O trauma do
nascimento.
2) A patologia
da doença.
3) A morbidez da
decrepitude.
4) A fobia da
morte.
5) Sujeição
àquilo de que não gostam.
6) Separação
daquilo que amam.
Ninguém nega que
os sapatos da vida apertam nesses seis lugares. A Primeira Nobre Verdade os
une, concluindo que os cinco “skandas”( componentes da vida) são dolorosos.
Como esses “skandas” são o corpo, as sensações, os pensamentos, os sentimentos
e a consciência, em suma, tudo aquilo que geralmente consideramos ser a vida,
isso equivale a dizer que a totalidade da vida humana ( tal como a vivemos) é
sofrimento. De algum modo, a vida se apartou da realidade, e essa separação,
enquanto não for superada, torna impossível a verdadeira felicidade.
Para a brecha
ser sanada, precisamos conhecer sua causa.
A segunda Nobre
Verdade a identifica. A causa do deslocamento da vida é” tanha”. Mais uma vez
as imprecisões da tradução. Tanha geralmente é traduzido como “desejo”.
“Tanha” é um
tipo específico de desejo, o desejo de realização individual. Longe de ser a
porta da vida abundante, o ego é uma hérnia estrangulada. Quanto mais ela
incha, mais sufoca a livre circulação da qual depende a saúde, e mais a dor
aumenta.
A Terceira Nobre
Verdade é a sequência lógica da Segunda. Se a causa do deslocamento da vida é a
ânsia egoísta, então sua cura está na superação dessa ânsia. Se conseguíssemos
nos libertar dos limites estreitos do egoísmo, passando para a imensidão da
vida universal, ficaríamos livres do nosso tormento.
A Quarta Nobre
Verdade prescreve como a cura pode ser realizada. A superação de “tanha”, o
caminho para fora do cativeiro, se dá por meio do Caminho Óctuplo.
IV- O Caminho
Óctuplo
O Caminho
Óctuplo, portanto, é uma rota de tratamento. É o tratamento por meio de
treinamento. Buda distinguia duas maneiras de viver. Uma delas é a maneira
aleatória e irrefletida, na qual o sujeito é puxado e empurrado por impulsos e
circunstâncias, como um graveto na tempestade. A segunda, a vida com um
propósito, ele chamava de Caminho. Buda
propôs uma série de mudanças destinadas a libertar o indivíduo da ignorância,
do impulso inconsciente e de “tanha”.
Por meio de
longa e paciente disciplina, o Caminho Óctuplo pretende nada menos que apanhar
a pessoa, onde ela estiver, e assentá-la como ser humano diferente, curado das
deficiências que o aleijavam.
“Felicidade,
aquele que busca conquistará”, disse Buda, “ se praticar”.
O que é essa
prática de que fala Buda?
Ele a divide em
oito passos. Estes, porém, são precedidos por um passo preliminar. Este passo
preliminar é a associação correta. Devemos nos associar aos que
conquistaram a Verdade, conversar com eles, servi-los, observar seus caminhos e
absorver, por osmose, seu espírito de amor e compaixão.
Exposto esse
passo preliminar, segue os oito passos do Caminho:
1) Visão Correta
– alguma orientação intelectual, é necessária se a pessoa pretende pôr-se a
caminho de outra maneira que não seja ao azar. As Quatro Nobres Verdades
oferecem essa orientação. O sofrimento é abundante; é ocasionado pelo impulso
para a realização individual; esse impulso pode ser moderação; e a maneira de
moderá-lo é percorrer o Caminho Óctuplo.
2) Intenção
Correta – enquanto o primeiro passo convocou nossa mente a considerar qual é
basicamente o problema da vida, o segundo passo convoca nosso coração a decidir
o que realmente queremos.
3) Linguagem
correta – Nossa primeira tarefa é tomar consciência do nosso discurso e daquilo
que ele revela sobre o nosso caráter. A segunda direção a ser tomada pela nossa
linguagem é o rumo da caridade.
4) Conduta
Correta – o treinamento deve refletir sobre suas ações. Com respeito à direção
na qual deve prosseguir a mudança, o conselho mais uma vez é: rumo ao altruísmo
e à caridade. Essas diretrizes gerais são detalhadas nos Cinco Preceitos, a
versão budista da segunda metade, ou metade ética, dos Dez Mandamentos: a) Não
matar, b) Não roubar, c) Não mentir, d) Não ser incasto e e) não consumir
bebidas alcoólicas.
5) Ocupação
Correta – os ensinamentos explícitos de Buda sobre o trabalho visavam ajudar seus contemporâneos
a decidir entre as ocupações que levavam ao progresso espiritual e as que o
impediam, há budistas que sugerem que, se Buda ensinasse hoje, ele se
preocuparia menos com aspectos específicos e mais com o perigo de as pessoas
esquecerem que ganhar o sustento é um meio, não o principal objetivo da vida.
6) Esforço
Correto - Buda dava imensa ênfase à vontade. Alcançar a meta exige um tremendo
esforço; há virtudes a desenvolver, paixões a refrear e estados mentais
destrutivos a apagar, para que a compaixão e o desapego tenham a oportunidade
de surgir.
7) Atenção
Correta – Se conseguíssemos realmente compreender a vida, se pudéssemos
compreender realmente a nós mesmos, perceberíamos que nem uma nem outra são
problemas.
8) Concentração
Correta – este passo envolve substancialmente as técnicas que já encontramos na
“raja yoga” hinduísta, e leva substancialmente à mesma meta.
Referências:
1) Anotações de
classe;
2) Smith, Huston.
As Religiões do Mundo, Ed. Pensamento Cultrix.