FALSIFICACIONISMO
(por Ândrea Cristina
Pimentel Palazzolo)
RESUMO:
Este artigo pretende apresentar o falsificacionismo por meio de teses
explicitamente formuladas e destacadas no texto junto com as explicações
necessárias para o entendimento das mesmas. Constataremos que, teorias
altamente falsificáveis devem ser preferidas às menos falsificáveis. Já, as
teorias que foram falsificadas devem ser rejeitadas.
A
ciência para o falsificacionismo são hipóteses que são experimentalmente
propostas com o fim de descrever ou explicar o comportamento de algum aspecto
do mundo ou do universo, porém para fazer parte da ciência uma hipótese deve
ser falsificável.
Assim,
uma hipótese é falsificável se existe uma
proposição de observação ou um conjunto delas logicamente possíveis que são
inconsistentes com ela, isto é, que se estabelecida como verdadeiras,
falsificariam a hipótese.
Exemplo:
“Objetos pesados, como um tijolo, quando liberados perto da superfície da
Terra, caem diretamente para baixo se não forem impedidos”. Tal exemplo é
falsificável, ainda que possa ser verdadeiro. É logicamente possível que o
próximo tijolo solto “caia" para cima. Não há contradição lógica envolvida
na afirmação “o tijolo cairá para cima quando liberado”, apesar de tal afirmação
talvez nunca possa ser observado.
Tratemos
agora de um exemplo de afirmação que não satisfaz ao requisito, ou seja, de uma afirmação
infalsificável. Exemplo: Ou está
chovendo ou não está chovendo. Nenhuma proposição de observação logicamente
possível poderia refutar. Ela é verdadeira qualquer que seja o tempo. Outro
exemplo A sorte é possível na especulação esportiva. Esta afirmação é uma
citação de um horóscopo de jornal. Ela tipifica a estratégia tortuosa do
vidente. A afirmação é infalsificável. Significa dizer ao leitor que, se ele
fizer uma aposta hoje, ele poderá ganhar, o que permanece verdadeiro quer ele
aposte ou não, e se ele aposte, quer ele ganhe ou não.
O
falsificacionismo exige que as hipóteses científicas sejam falsificáveis, no
sentido da discussão acima, pois é somente excluindo um conjunto de proposições
de observação logicamente possíveis que uma lei ou teoria é informativa. Se uma
afirmação é infalsificável, o mundo pode ser de qualquer propriedade, pode se
comportar de qualquer modo, sem chocar com a afirmação. Uma lei ou teoria
científica tem que nos dar alguma informação sobre como o mundo de fato se
comporta, eliminando assim as outras possíveis maneiras.
A
lei “Todos os planetas se movem em
elipses ao redor do sol” é científica por que afirma que os planetas de fato se
movem em elipses e elimina órbitas que sejam quadradas ou ovais. A lei faz
afirmações decisivas, ela tem conteúdo informativo e é falsificável.
Uma teoria
será muito boa se faz afirmações abrangente, ou seja, bastantes amplas, sobre o mundo, e consequentemente é altamente
falsificável, e resiste à falsificação toda vez que é testada.
Exemplo:
a) Marte se move numa elipse em torno do sol.
b) Todos os planetas se movem em elipses em torno do seus sóis. Qualquer
falsificação de (a) será uma falsificação de (b), mas o contrário não ocorre. A
lei (b) é mais abrangente que a lei (a), ela é mais falsificável que a lei (a).
A exigência de
que as teorias devem ser altamente falsificáveis tem a consequência de que as
teorias devem ser precisas.
Quanto
mais precisa for uma teoria, mais falsificável ela se torna. Exemplo: “Os
planetas movem-se em elipses em torno do sol.” É mais precisa que: “Os planetas
movem-se em curvas fechadas em torno do sol.” Consequentemente é mais falsificável.
Teorias
altamente falsificáveis devem ser preferidas às menos falsificáveis.
As teorias que
foram falsificadas devem ser rejeitadas.
A ciência
consiste na proposição de hipóteses altamente falsificáveis, seguida de
tentativas de falsificá-las.
Os
falsificacionistas sofisticados percebem que não basta que: uma hipótese seja
falsificável e quanto mais o for, melhor, porém não deve ser falsificada. Uma
outra condição se relaciona ao progresso da ciência.
Em geral, uma
teoria nova será aceita como digna da consideração dos cientistas se ela for
mais falsificável que sua rival, e especialmente se ela prevê um novo tipo de
fenômeno não tocado pela rival.
Pois
é muito difícil especificar exatamente quão falsificável é uma teoria isolada.
Por outro lado, é frequentemente possível comparar graus de falsificabilidade
de leis ou teorias. Exemplo: “Todos os pares de corpos se atraem mutuamente com
uma força que varia inversamente com o quadrado de sua distância.” É mais
falsificável que a afirmação: “Os planetas no sistema solar se atraem
mutuamente com uma força que varia inversamente com o quadrado de sua
distância.” A segunda é envolvida pela primeira. Qualquer coisa que falsificar
a segunda vai falsificar a primeira, mas o inverso não é verdadeiro.
Ressalte-se
que os falsificacionistas rejeitam as modificações “ad hoc”. Uma modificação de uma teoria é denominada “ad
hoc”quando a teoria modificada não tiver consequências independentes testáveis,
isto é, quando a teria modificada for menos falsificável que a original.
Exemplo:
Considere a teoria “ O pão alimenta”. Essa teoria teve problema numa aldeia
onde a maioria das pessoas que comeu o pão ficou enferma e morreu. A teoria “(
Todo) o pão alimenta foi falsificada. Para evitar esta falsificação a teoria
pode ser modificada, assim: “( Todo) o pão, com a exceção daquela partida
específica de pão produzida naquela aldeia em questão, alimenta.”Essa é uma
modificação “ad hoc”. Observe-se que a hipótese modificada é menos falsificável
que a versão original.
Aceitável
seria substituir a teoria falsificada pela afirmação “Todo o pão alimenta,
exceto o pão feito de trigo contaminado por uma espécie de fungo ( com a
especificação do fungo e suas características). Essa teoria modificada não é
“ad hoc”, pois leva a novos testes. Ela é independentemente testável, segundo a
expressão de Popper. Observe-se que se a hipótese modificada, mais falsificável
resiste à falsificação diante dos novos testes, algo de novo foi constatado e
haverá progresso.
Temos
de um lado teorias que assumem a forma de hipóteses audaciosas e do outro de
hipótese cautelosas. Será falsificado se um desses tipos de hipóteses não
consegue passar por um teste de observação ou experimento, e confirmado se ele
passar por tal teste.
Para
a posição falsificacionista mais sofisticada, serão assinaladas avanços significativos pela confirmação de
conjecturas audaciosas ou pela falsificação de conjecturas cautelosas.
Do
primeiro tipo constituirão uma importante contribuição para a ciência, pois é a
descoberta de algo novo, que era previamente desconhecido ou considerado
improvável. Ex. A descoberta de Netuno. As observações do século XIX, sobre o
movimento do planeta Urano indicavam que
sua órbita se afastava consideravelmente da que fora prevista na teoria de
Newton, foi sugerido que existia um planeta que ainda não fora detectado nas
adjacências de Urano. A atração entre o planeta hipotético e Urano deveria
explicar o afastamento desse último de sua órbita prevista inicialmente. Com
cálculos, pois o planeta tinha um tamanho razoável, inspecionando a região
apropriada através de um telescópio foi avistado Netuno, pela primeira vez, por
Galle. Isso constituiu um avanço significativo. A previsão arriscada foi
confirmada.
Já
a falsificação de conjecturas cautelosas é informativa, estabelece que o que
era visto como uma verdade não-problemática é, na realidade, falso. Exemplo: a
demonstração de Russell de que uma teoria ingenuamente estabelecida, que era
baseada no que pareciam ser proposições quase auto evidentes, era
inconsistente.
Observe
que pouco se aprende quando acontece a falsificação de uma hipótese audaciosa
ou da confirmação de uma hipótese cautelosa. Por razões óbvias.
Sobre
o conhecimento prévio e a hipótese audaciosa, ambos são noções historicamente
relativas. Conhecimento prévio num dado momento histórico é o conjunto das
teorias científicas aceitas e bem estabelecidas nesse dado momento.
Uma
hipótese é audaciosa num dado momento histórico se ela for considerada
improvável a luz do conhecimento prévio no momento dado.
O
que é visto como hipótese audaciosa num estágio da história da ciência não
permanece necessariamente audaciosa posteriormente, num outro estágio. Por
exemplo: “a astronomia de Copérnico era audaciosa em 1534, pois se opunha a
suposição prévia de que a Terra é estacionária no centro do universo.
Obviamente ela não seria considerada audaciosa atualmente.
Referência
CHALMERS,
A.F. O que é Ciência afinal? SP: Ed. Brasiliense.2009.