A CAIXA DE PANDORA
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
Epimeteu era irmão de Prometeu, o titã que modelou o
primeiro homem do barro. No entanto, este, por desavenças com Júpiter (Zeus),
acabara por incorrer na sua ira.
Temendo que Júpiter viesse a querer se vingar dele ou do gênero humano,
Prometeu decidiu um dia alertar o seu desavisado irmão:
- Epimeteu, tome cuidado com os
presentes que receber de Júpiter - disse
Prometeu. - Já há algum tempo que
ele anda furioso comigo, porque ousei roubar o fogo dos céus para levá-lo aos homens.
Epimeteu escutou com atenção as palavras cautelosas do
irmão e logo as esqueceu.
Enquanto isso, no Olimpo Júpiter já
havia ordenado a
Vulcano ( Hefestos) - que tinha também as suas
qualidades de artífice, que criasse
uma nova criatura, uma parelha para o homem.
- Deixa comigo - disse o deus das
forjas.
Fechando-se em sua fuliginosa oficina com a deusa Minerva
( Atena), os dois entregaram-se com empenho à tarefa. Decorrido
algum tempo, a obra estava pronta.
- Nunca nada de mais perfeito saiu de
suas talentosas mãos, excelente Vulcano! - disse Minerva, entusiasmada.
- Graças a você, cara amiga, que
me auxiliou com seus proveitosos conselhos! - disse Vulcano, retribuindo o
elogio.
Diante dos dois estava uma linda mulher, quase tão bela
quanto a mais bela das deusas.
- Vamos, levemos já nossa invenção a Júpiter, para
que ele nos dê logo sua aprovação! - disse: Minerva, certa da aprovação de seu exigente pai.
E não foi de outra maneira. Tão logo o
deus dos deuses pôs os seus olhos
sobre a nova criatura, eles encheram-se de um brilho intenso.
- Vulcano e Minerva, vocês excederam-se em
tudo o que se refere à beleza!
- disse Júpiter, aplaudindo com entusiasmo a obra que tinha diante
de si.
- Batizamos ela de Pandora, meu pai -
disse Minerva. - O que acha deste nome?
- Pandora, Pandora - repetiu Júpiter, deliciado.
- Tem um som volátil, alado… Magnífico!
Antes, porém, de dispensar a
criatura, chamou-a a um canto.
- Venha cá, Pandora, tenho um presente para você. Quero que
você leve isto aos mortais como sinal de meu apreço por eles - disse Júpiter, entregando-lhe
uma caixa dourada, ricamente trabalhada com arabescos e filigranas de prata.
Pandora arregalou os olhos ao ver diante de si aquele
presente tão magnífico. Sem poder
conter-se, quis logo abrir a maravilhosa caixa, mas foi impedida pelo autor do
presente.
- Não, minha filha,
não faça
isto! É para ser mantida sempre assim, fechada.
- Sim. - disse Pandora, obedecendo a Júpiter.
No mesmo dia, os dois presentes chegaram às mão de Epimeteu,
que não sabia qual deles admirar mais. Mas em breve fez logo sua escolha: nada
podia ser mais admirável do que aquela
encantadora criatura que se chamava Pandora.
Entusiasmado, Epimeteu decidiu instalá-la em seu
quarto. Depois que ele havia se retirado, Pandora pegou sua caixa dourada e
prateada e pôs-se a examiná-la, detalhadamente.
Por várias vezes a encantadora Pandora hesitou se abria ou não a fantástica caixa. Até que um dia,
despertando de um sonho maravilhoso que tivera com a caixa, Pandora estendeu a
mão imediatamente para caixa. Não podendo mais conter o seu desejo, ergueu a
tampa numa volúpia insana de
curiosidade que lhe pôs na espinha um
arrepio gelado.
Nem bem ergueu um pouquinho a tampa, Pandora, sentiu-a
ser arrebatada das mãos, caindo ao chão. Assustada, Pandora viu escapar de
dentro da caixa algo a princípio sem forma.
Parecia que todos os ventos do mundo se escapavam desordenadamente dali.
Imediatamente um deles tomou a forma de uma caveira volátil, parecendo
toda feita de cristal e de vento.
Algo parecido a uma gargalhada escapava por entre os rápidos intervalos
das batidas dos maxilares da caveira, não se sabendo precisar se era uma
gargalhada de escárnio ou de dor. A
caveira então transformou-se num grande e gelado vapor que fugiu pela janela do
quarto, perdendo-se no mundo.
Depois surgiram vários rostos deformados que erguiam-se da caixa como se
fossem o retrato horrendo da Doença. Logo depois, arremessaram-se também pela janela atrás da primeira
criatura, finalmente libertas. Dentre as tantas criaturas que escaparam da
caixa, Pandora teve o desgosto de ver personificados todos os vícios que viriam a
acometer no futuro a alma humana.
Pandora, embora aterrorizada, não conseguia fechar a
maldita caixa, involuntariamente fascinada com o que assistia, sem saber como
pudera desencadear tantas desgraças. Lançando-se de joelhos ao chão, encontrou
finalmente a tampa caída a um canto.
Enquanto rastejava para alcançá-la sentia rodopiar acima de si uma legião de
demônios - a Avareza,
a Arrogância, a
Crueldade, o Egoísmo, todos os vícios e defeitos
humanos, dançavam uma ciranda infernal sobre sua cabeça, até que,
arremessando-se à caixa, conseguiu finalmente fechá-la.
Mas o mal já estava feito. Percebendo que nada ficara lá dentro, olhou
ainda uma vez para o fundo da caixa. Um rosto maravilhosamente belo e eternamente
jovem no entanto, a observava dali.
- Quem é você? - disse
Pandora, ainda temerosa.
- Eu sou a Esperança - disse
simplesmente o belo rosto.
Foi carregando esse valioso presente que Pandora se
apresentou diante dos homens.
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