“PRUDÊNCIA EM
ARISTÓTELES”
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
Aristóteles na
Ética a Nicômaco além da Virtude também vai tratar da Prudência e demonstrar a
íntima relação entre as duas, ou seja:
Não há virtude
sem prudência e nem prudência sem virtude.
Para
entendermos o que é Prudência em Aristóteles, devemos começar pelas Ciências.
Qual é o pensamento de Aristóteles sobre Ciências? Como ele classifica as
Ciências?
Prudência seria
Ciência?
Aristóteles
divide as Ciências, estabelecidas no livro VI da Metafísica, em: Ciências
Práticas e Ciências Teoréticas.
Dentro de cada
uma delas, ele faz uma subdivisão, ou seja, as Ciências Práticas se subdividem
em: Produtivas e Práticas propriamente tais.
As Ciências
Teoréticas: em Metafísica, Matemática e Física.
As Ciências
Práticas são o saber prático, procuram o saber voltado para a ação.
Nelas as Ciências
Práticas Produtivas, são o domínio das “technaí”, se ocupam com a produção de
objetos intelectuais. Ex. Poética, Retórica, Técnicas, Artes, Engenharia, Medicina
etc.
Nas Ciências
Práticas propriamente tais a própria prática é sua finalidade. Exs. Política,
Ética, Direito, Economia etc.
As Ciências
Teoréticas são o saber teórico, das Ciências Puras, da “Sophia”, da “Epistemé”,
procuram o saber pelo saber.
Nelas, a Metafísica é a Ciência do ser enquanto
ser. É a ciência do Filósofo.
A Matemática se estuda os seres matemáticos.
A Física estuda
a natureza (“physis”), o mundo do devir, da geração e da corrupção.
Mas, afinal,
Prudência é para Aristóteles Ciência?
Sim, é a ciência
a do saber prático é a ciência prática propriamente dita.
Prudência
aristotélica ou “phronêsis” platônica é uma virtude intelectual, portanto dianoética,
do pensamento, da razão.
O que difere no
pensamento destes filósofos é que para Platão a “phronêsis” é um saber teórico
e para Aristóteles a prudência é um saber prático, mas para ambos ela é
ciência.
Prudência é a
reta razão, é o agir deliberado, refletido. É a ação ponderada, discutida,
examinada, deliberada.
Deliberamos
sobre “tudo o que é obra do homem”, o que está sujeito a mudança.
Segundo Pierre
Aubenque “A deliberação representa a via humana, ou seja, mediana, aquela de um
homem que não é completamente sábio, nem inteiramente ignorante, num mundo que
não é, nem totalmente previsível, nem totalmente imprevisível, o qual, no
entanto, convém ordenar usando as mediações claudicantes que ele nos oferece”.
Com efeito, na
prudência a ação é cautelosa, porém não é morosa.
Ela é rápida e
certeira. É o Kairós, o tempo do grego, especificamente do guerreiro grego, ele
sabe como e quando agir. É o agir bem e
no momento certo.
Mas quando é o
momento certo?
“Nem antes nem
depois”, assim Ulisses (Odisseu) orienta a seu filho Telêmaco, na Odisséia de
Homero.
Para
Aristóteles não deliberamos, não refletimos sobre os fins, sobre o que
desejamos, mas a respeito dos meios.
A finalidade do
homem quem determina é o desejo, ele é o fim desejante, e está na parte
irracional.
Agora, quanto aos
meios, para obter o fim que é o desejo, está na parte racional, dianoética.
A razão,
através da prudência, aparece proporcionando a deliberação, a reflexão sobre os
meios que devem ser empregados para conseguir os fins desejantes.
Prudência é a
virtude da decisão e da ação.
É, pois, a reta
razão que dará a resposta quanto aos meios que utilizaremos para o fim que é o
desejo.
Prudência é o
olho d’alma.
É a “ recta
ratio agibilium”, é a virtude opinativa
da alma, é a “auriga virtutum”, é a guia das virtudes, “ genitrix
virtutum”, é a mãe das virtudes.
Segundo Jean
Lauand “a virtude que realiza as demais.”
A prudência não
se esquece. Não há como parar de exercê-la.
Os virtuosos
usam da prudência e os não virtuosos usam da habilidade, da astúcia.
O virtuoso
“natural”, exemplo: que já nasce generoso, corajoso, não possui a prudência.
Ele não vai escolher os meios corretos para o fim desejado. O desejo é bom, mas
os meios que ele utiliza não são bons.
Não há virtude
ética, do caráter, da moral, sem prudência (“phronêsis”). E nem prudência sem virtude ética.
Na parte
apetitiva está o fim que é o desejo, daí a importância da educação dos
apetites, da virtude moral, do caráter, da ética, para que os fins desejantes
sejam bons.
Do outro lado
na parte racional está a deliberação, a reflexão, sobre os meios que eu vou
escolher para alcançar o fim desejante, daí a importância da virtude
intelectual, dianoética, da razão. A deliberação dos meios deve ser virtuosa. Os
meios devem ser virtuosos, bons.
Há uma ligação
entre a parte irracional e a racional, entre a virtude, que está na parte
irracional dos apetites, do controle dos apetites e a prudência, que está na
parte racional, do saber prático, de tal forma que se meu fim que é meu desejo
é ruim, se não é virtuoso ele contaminará os meios, e vice-versa, se os meios
forem ruins ele contaminará os fins. .
Elas estão intrinsecamente ligadas. O irracional e o racional.
Reto desejo,
reta razão e reta razão, reto desejo.
Não há
prudência sem virtude nem virtude sem prudência.
Bibliografias:
1) Os Pensadores, Aristóteles, Ética a
Nicômaco, Vol.IV, Editor Victor Civita –
1973
2) Aubenque, Pierre – A Prudência em
Aristóteles –Trad. Marisa Lopes. São Paulo, SP. Discurso Editorial, 2003.
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