“CAETANO VELOSO ARAUTO DA ALEGRIA”
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
Era uma tarde de inverno, ventava muito em São Paulo, no ano de 2009, quando conheci Caetano Veloso, ele precisou tirar um novo RG, pois o dele era muito antigo, da Bahia, portava apenas o xérox, também estava sem passaporte e precisava viajar no outro dia, para Buenos Aires. Nos países do MERCOSUL, quem faz parte, não precisa de passaporte, mas há uma recomendação, o RG tem que ser atual, de 10 em 10 anos, deve ser renovado.
Bem, enquanto aguardávamos Caetano, enfrente ao IIRGD, com praticamente tudo pronto, veio-me aquele momento de fã e uma dose ansiedade, até então estava pensando apenas profissionalmente.
Lembrei que na correria havia esquecido meu celular, para tirar uma foto com Caetano.
Que decepção! Não registraria aquele momento tão especial.
Olhei para frente e vi do outro lado da Avenida Cásper Líbero, uma loja que vendia discos, pelo menos era o que anunciava.
Que felicidade! Acreditei que lá eu encontraria um disco do Caetano e então conseguiria pelo menos um autógrafo.
Entrei na loja às pressa.
Conforme fui passando pelas prateleiras, procurando alguém para me atender, dei uma fitada no que se vendia de um lado revistas para aprender a fazer tricô, crochê, moda, do outro revistas pornô e no fundo muitos discos.
Uma loja um tanto eclética!
Perguntei ao vendedor se tinha algum disco ou CD do Caetano Veloso, na certeza que ele responderia que sim.
Levei um não. Insisti. Outro não. Insisti novamente. “Não”!
Saí do local no estilo: “To triste, sei lá, mil coisas...”
Logo recuperei o ânimo, afinal de contas iria conhecer Caetano.
Enfim, ele chegou!
Com um sorriso largo, simpático, simples e até um pouco tímido.
Brincamos, dissemos que ele estava literalmente sem documento.
Ele concordou plenamente e completou e sem lenço.
Risos.
No transcorrer da conversa, por algum motivo tocou-se no nome de um determinado Pastor.
Ele externou um ar de preocupação.
Contou-nos que a babá de seus dois filhos, mais novos, era da igreja desse Pastor e por consequência, os meninos tornaram-se seguidores de tal religião, porém observou que um deles, o mais velho, começou a refletir melhor sobre o tema.
Caetano disse que, acreditava em Deus, mas não tinha nenhum tipo de religião, pois questionava os dogmas.
Conversa vai, conversa vem...
Surgiu então, o assunto da caligrafia do nome de Caetano.
Ele lamentou, com pesar, o registro errado do seu sobrenome no cartório da Bahia.
Disse que, todos os seus familiares foram registrados com “Velloso”, com dois éles, ele foi o único da família que foi registrado com um éle.
Inconformado, pois queria “Velloso”, seu primeiro disco está escrito desta forma, nos outros ele se rendeu e ficou “Veloso”.
Enquanto o assunto era profissional, tudo bem!
Como fã, a danada da timidez!
Num ato de muita coragem, com aquele sorriso amarelo, pedi uma foto (consegui um celular emprestado).
Com certeza fiquei vermelha!
Ele concordou com um sorriso.
Interessante! Por um momento, tive a impressão que ele olhava nas minhas rosas brancas da blusa.
Enfim, a foto!
Logo em seguida, acompanhamos ele partir.
De longe, fiquei contemplando aquela cena.
Partia Caetano, ainda sem lenço, mas agora com documento!
Lá, eu ficava com minhas rosas brancas e a eternidade daquele momento.
Estava distante.
Ele olhou antes de entrar no carro, fiz um gesto de abraço, cruzando os braços na altura dos ombros.
Ele também. Sorrisos...
Partia nosso Arauto da Alegria, que com sua música nos faz sentir mais sublimes e menos mortais.
Um homem que quando canta, encanta até Orfeu!
A vida é assim, quando menos se espera, nos brinda com momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis!
Salve o Caetano!
Salve a Bahia!
Salve o Brasil!
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