sábado, 27 de maio de 2017

PLATÃO - II

PLATÃO E O MUNDO DAS IDEIAS
(por Ândrea Cristina Pimentel Palazzolo)
                     


Admitamos pois - o que me servirá de ponto de partida e de base - que existe um Belo em si e por si, um Bom, um Grande, e assim por diante”. 


                           Essas palavras, que Platão faz Sócrates dizer no Fédon, representam uma mudança de direção da investigação filosófica em relação aos pensadores do passado. A explicação do mundo físico, desde os filósofos da escola de Mileto, convertia-se na procura de uma situação primordial que justificaria, em seu desdobramento, a situação presente do cosmo. Antes a água (Tales), o ilimitado (Anaximandro), o “tudo junto” (Anaxágoras) - depois, devido a diferentes processos de transformação ou de redistribuição espacial, o universo em seu aspecto atual. A explicação filosófica representava, assim, o encontro de um princípio ( arquê) originário e era, por isso mesmo, movida por interesse arcaizante, de busca das raízes, de desvelamento das origens. 
                           Com Platão essa índole retrospectiva e “horizontal"da investigação é substituída pela perspectiva “vertical” ascendente que propõe, seguindo a sugestão do método dos geômetras, as ideias como causas intemporais para os objetos sensíveis. O que é belo, mais belo ou menos belo, é belo porque existe um belo pleno, o Belo que, intemporalmente, explica todos os casos e graus particulares de beleza, como a condição sustenta a inteligibilidade do condicionado.
                        Através dos diálogos, Platão vai caracterizando essas causas inteligíveis dos objetos físicos que ele chama de ideias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis - o que significa  dizer justamente que não está na matéria a razão de sua inteligibilidade. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmas, escapando à corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos. Mereciam, por isso mesmo, o qualificativo de “divinas”, qualificativo que os filósofos anteriores já atribuíam à arquê. Perfeitas e imutáveis, as ideias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais, a transcender o plano mutável dos objetos físicos.

                        A afirmativa de que o mundo material se torna compreensível através da hipótese das ideias deixa, porém em suspenso um problema decisivo: o da possibilidade de se conhecer essas realidades invisíveis e incorpóreas. Com efeito, o que inicialmente foi tomado como hipótese explicativa - a existência do mundo das ideias - não basta a si mesmo. É preciso que se admita um conhecimento das ideias incorpóreas que antecede ao conhecimento fornecido pelos sentidos, que só alcançam o corpóreo. 
                        No Mênon  Platão expõe a doutrina de que o intelecto pode apreender as ideias porque também ele é, como as ideias, incorpóreo. A alma humana, antes do nascimento - antes de prender-se ao cárcere do corpo - teria contemplado as ideias enquanto seguia o cortejo dos deuses. Encarnada, perde a possibilidade de contato direto com os arquétipo incorpóreos, mas diante de suas cópias - os objetos sensíveis - pode ir gradativamente recuperando o conhecimento das ideias. Conhecer seria então lembrar, reconhecer. A hipótese de reminiscência vem, assim, sustentar a hipótese da existência do mundo das formas. 
                         Mas, por sua vez, implica outra doutrina, que a condiciona: a da preexistência da alma em relação ao corpo, a da incorruptibilidade dessa alma incorpórea e, portanto, a da sua imortalidade. Essa imortalidade, de que Sócrates não teve certeza nos primeiros diálogos, converte-se, na construção do platonismo, numa condição para a ciência, para a explicação inteligível do mundo físico.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, são as mesmas mencionadas no artigo PLATÃO - I

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